A maternidade do Hospital Sousa Martins poderá concentrar os serviços das unidades da Covilhã e Castelo Branco por ser a maternidade que mais partos realiza em toda a Beira Interior. Esta foi uma das conclusões da reunião entre o ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, e Albino Aroso, presidente da Comissão de Saúde da Mulher e da Criança, que teve lugar no início da semana passada em Lisboa. «Não se avançará nada enquanto não tivermos os dados estatísticos sobre a evolução da taxa de natalidade nos vários distritos», revelou a “O Interior” Albino Aroso, o que poderá «vir a alterar ligeiramente a nossa posição e a preferência por esta ou aquela maternidade», assegurou.
Confrontado com o número de partos que a maternidade do Sousa Martins realiza por ano (cerca de mil), muito à frente do Hospital Amato Lusitano, em Castelo Branco (à volta de 500), e do Centro Hospitalar da Cova da Beira (700), o autor do estudo que aponta para o encerramento das maternidades para oferecer um «serviço com mais qualidade» às parturientes, chegou mesmo a afirmar que «poderá ser a maternidade da Guarda a ficar aberta». «No final deste ano deveremos ter os dados do Instituto Nacional de Estatística e assim já estaremos mais informados para tomar decisões», acrescentou. Uma decisão que será «difícil» de tomar na Beira Interior. É que a preferência de Albino Aroso continua a ser a Covilhã, por estar geograficamente melhor localizada, permitindo assim socorrer as grávidas da Guarda e Castelo Branco. «Teremos que pensar muito bem», desabafa. Entretanto, a Comissão de Saúde da Mulher e da Criança e o Ministério da Saúde irão realizar a partir de Janeiro encontros com os médicos, centros de saúde e políticos das diversas regiões para tentar «sensibilizá-los para a necessidade de se encerrarem maternidades para haver mais qualidade de serviço», sublinha, sendo que a reunião com os médicos da região Centro deverá acontecer em Fevereiro.
O ministro da Saúde também justificou na semana passada em Fátima, durante o 18º Encontro Nacional da Pastoral da Saúde, que o encerramento das maternidades no interior se deve a razões clínicas e de risco para os doentes e não a questões de poupança, considerando que o facto de alguns serviços terem poucos partos leva a uma falta de prática dos médicos que pode ser prejudicial em casos mais complicados. «Quando numa maternidade há apenas um parto por dia pode acontecer um caso difícil e o médico que lá está não tem prática, porque, estatisticamente, só tem casos difíceis de nove em nove meses ou de ano a ano», disse Luís Filipe Pereira. No entanto, o ministro negou existir já uma decisão quanto às unidades a encerrar, uma vez que tem que ser uma opção ponderada por «existirem vários aspectos envolvidos» como as grandes distâncias de muitas localidades ao hospital.
«Só o fecho de maternidades pode garantir a qualidade do serviço»
Apesar da dissolução da Assembleia da República, Albino Aroso disse a “O Interior” que a comissão irá continuar a estudar o encerramento de blocos de partos em algumas unidades hospitalares. «Isto não é um problema dos Governos, mas técnico», frisou, relembrando que a comissão já existe há vários anos. «Existiu nos Governos PSD, PS e no actual», exemplificou. Além disso, e no seu entender, esta é a única hipótese a tomar para «garantir a qualidade do serviço prestado às mães e aos bebés», ainda para mais quando Portugal enfrenta um défice de especialistas, tendo-se perdido em apenas dois anos cerca de 140 obstretas. Ainda no mês passado, durante uma conferência realizada na UBI, o presidente do Colégio de Ginecologia/Obstetrícia da Ordem dos Médicos, Luís Graça, dizia que a única solução para o interior conseguir ter uma maternidade de qualidade era a concentração dos serviços num só hospital para a Beira Interior ter massa crítica em número de partos e em recursos humanos. Esta era também uma das hipóteses apontadas para atrair médicos para o interior do país durante os internatos de especialidade. Recorde-se que o estudo da Comissão presidida por Albino Aroso apontava para o fecho de 15 maternidades e serviços de neonatologia espalhados pelo país. Os hospitais de Santo Tirso, Barcelos, Amarante, Chaves, Bragança, Mirandela, Figueira da Foz, Lamego, Guarda, Covilhã, Castelo Branco, Peniche, Caldas da Rainha, Portalegre e Elvas inserem-se nessa lista.
Liliana Correia