António Costa não o diz; o PS desvaloriza essa possibilidade; todos sabemos que os socialistas querem a maioria na próximas legislativas. Para isso, sabem que o Verão tem de lhes correr bem. E correr bem é não haver imprevistos, nem incêndios. Nem haver polémicas que lhes façam perder votos.
O anúncio da greve dos transportadores de combustíveis, que pode parar o país, já foi passado para o foro das relações entre sindicato e patrões (e o Governo do país não tem nada a ver com o diferendo e menos ainda com as consequências que pode causar…); a aprovação do estudo de impacto ambiental do novo aeroporto no Montijo não teve contestação, apesar dos três milhões de aves que vão estar no caminho dos aviões; os serviços públicos paupérrimos e o envelhecimento dos trabalhadores não é tema de conversa; os professores foram silenciados; os enfermeiros calam perante as despesas da Ordem; os médicos foram de férias e esqueceram os problemas do SNS; os negócios entre famílias socialistas e os “jobs for the boys” já não incomodam ninguém – e a lei até vai mudar para poder haver negócios entre Estado e familiares de membros do Governo (uma normalização que temos de agradecer aos atuais deputados. Vai ser um fartar vilanagem!), enquanto um secretário de Estado não se demite, mesmo que a lei, ainda em vigor, assim o determine; o Verão com temperaturas extremas na Europa, está anormalmente fresco em Portugal e o risco de incêndio é menor que o habitual… Mas é precisamente aqui que tudo pode emperrar a máquina socialista e a ambição da maioria de Costa.
Depois da tragédia de 2017, com a morte de mais de 100 pessoas e a destruição de aldeias da região Centro, o Estado tinha a responsabilidade de promover e implementar medidas extraordinárias para que nunca mais se repetissem tragédias e a redução do fogo fosse efetiva. Mas, os poucos dias quentes, revelaram as fragilidades da proteção civil, a má gestão da floresta e a dificuldade em defender as aldeias e o campo do flagelo do fogo – mesmo com poucos dias de calor intenso, Portugal arde como sempre. Tanto que o Governo reagiu mal às críticas e partiu para o ataque ao poder local. Depois veio a polémica das golas inflamáveis, que afinal não o são, mas são um negócio absurdo, numa suposta proteção que não protege ninguém. Cheira a esturro ao lado, nas adjudicações e nas negociatas entre gente do partido ou da família, mas não há consequências…
E perante tudo isto, onde está a oposição? O PSD faz uma purga interna. Depois de um péssimo resultado nas europeias, com o PSD a ter 15% dos votos em Lisboa, Rui Rio sem estratégia, nem ideias, vê as sondagens levarem o partido para um irrelevante 20% das intenções de voto nas legislativas. A renovação que o presidente do PSD reclama é pouco mais do que o afastamento dos adversários internos; a regeneração de Rio é contrariada na Guarda onde o cabeça-de-lista do PSD “parte” para o seu quarto mandato como deputado; a inépcia de Rui Rio vai muito para além da incapacidade de fazer oposição e aproveitar os erros do Governo, está na sua incapacidade em consolidar os eleitores de centro-direita e conquistar o centro. O PS passou a ser o único partido confiável, ao centro, onde se ganham as eleições, e à esquerda. O PS pode continuar a cometer erros, mas se ninguém morrer durante o Verão, por causa dos fogos ou das golas, António Costa corre o risco de ganhar com maioria. Mesmo que a abstenção cresça…