A RTP, em cooperação com a Fundação Francisco Manuel dos Santos, leva a efeito todos os meses um programa de excelência onde os temas abordados têm conteúdo e interesse público redobrado. O debate da passada semana fez-se com grandes especialistas e teve como objeto os desafios para o jornalismo e a democracia.
No país onde 60% dos portugueses confiam nos jornalistas e nas notícias, verifica-se que há cada vez menos pessoas a comprar jornais, pois a informação é grátis e está ao alcance de um clique. Os meios digitais são o reflexo da nova sociedade de informação nesse ritmo constante online, mesmo percebendo a ameaça da qualidade noticiosa, fazendo cada vez mais sentido o apelo do Presidente da República, quando afirma que se trata de uma «situação de emergência e de um problema democrático e de regime».
Se retirarmos qualidade ao jornalismo isso significará retirar força ao regime que vivemos, pois o jornalismo fortalece a democracia e admitindo que a tal independência é um mito, poderemos adquirir uma visão de abandono de muitos dos valores e transformá-lo num mero negócio que produz, apenas e tão só, resultados financeiros, onde a desinformação consegue efetivamente entrar.
A entrega dos verdadeiros profissionais à causa, tantas vezes sofrendo pressões de vária ordem, neste mercado esgotado de baixos salários e limitação de recursos, dá a entender que a desmotivação é coisa que começa a aparecer e, se calhar o velhinho slogan da TSF “Por uma boa estória, por uma boa notícia, vamos ao fim da rua, vamos ao fim do mundo” começa também a fazer cada vez menos sentido.
A isto pode ainda somar-se a presença de alguns profissionais desonestos, alimentadores das tais “fake news”, as pequenas censuras, os interesses instalados, admitindo a existência de uma crise de valores, verificando-se assim a fraca qualidade do serviço que, sem vitalidade, faz com que se ressinta na nossa democracia.
Torna-se necessário que as instituições apoiem, criem incentivos às empreses do sector e, quiçá, é deveras interessante a aprendizagem do jornalismo no ensino básico e secundário, e isto sem esquecer o apoio (inquestionável) à imprensa regional. À imprensa de proximidade.
O nosso país tinha em 2018 mais de quatro centenas de publicações, o que demonstra que os portugueses têm (ainda) confiança na sua comunicação social, que, felizmente e na maior parte dos casos, contínua a saber formar e informar.
A mediatização de inúmeros factos capta indiscutivelmente a atenção pública e, mesmo admitindo que factos são factos, existe o tal jornalismo de cordel que atrai pelo sensacionalismo e pelas armas consideradas infalíveis: violência, sexo, crime, escândalo, corrupção e compadrio.
É urgente promover políticas que tornem o jornalismo mais atraente, dinâmico e sustentável contribuindo para a edificação do regime, pois só com uma informação responsável e coerente se podem firmar os verdadeiros pilares da democracia. E a imprensa é, sem sombra de dúvidas, o pilar basilar do regime.