Esta é a semana em que nós, Europeus, elegemos o nosso Parlamento. Em Portugal, vamos a votos no domingo, 26 de maio. Ainda o Parlamento de uma Europa a 28 ou, na verdade, de uma União a 27? O Brexit baralha tudo!
Quem diria? Tinha de ser mesmo o Reino Unido a armar toda esta confusão. A velha Inglaterra, para lá do Canal da Mancha, é sempre Europa, sem nunca o assumir verdadeiramente. Europeia q.b., tem dias. Quando convém sim; quando não interessa vira-nos as costas. Até a negociar a saída que referendou, quer ficar com o bife do lombo e deixar o osso para os “amigos” do continente.
E tudo isto a acontecer no momento mais crítico e difícil da União Europeia. Não é de economia que estou a falar, nem de crises monetárias ou financeiras, das dívidas soberanas. A Europa é muito mais do que bancos e bolsas, paraísos fiscais e capital… Há uma matriz cultural e civilizacional europeia, onde as pessoas querem ter voz. A Europa somos nós, é o nosso lugar no mundo.
Valores como a liberdade, a democracia, a paz e os direitos humanos estão a ser postos em causa por essa Europa fora. Em vários países da União Europeia já ninguém esconde tendências nacionalistas que integram o racismo, a xenofobia e o populismo como resposta política aos problemas. No berço da solidariedade e da fraternidade humana fecham-se as portas aos refugiados e aos emigrantes, esquecendo que a emigração foi a força que reconstruiu a Europa no pós-guerra.
No distrito da Guarda temos memória. Fomos Europa antes de Portugal o ser pela força da lei e dos tratados. Demos à França, ao Luxemburgo, à Alemanha, o trabalho de centenas de milhares de homens e mulheres que fugiam à miséria de uma terra amordaçada e fizeram desses países a sua segunda pátria.
Os passadores e contrabandistas da raia sabugalenses fizeram muito mais pela União Europeia que décadas de burocracia comunitária. Por isso, não podemos virar as costas à Europa quando ela mais precisa de nós. O nosso voto no domingo faz toda a diferença contra os novos bárbaros da desordem mundial. A Europa tem de voltar a ser um baluarte da liberdade, da paz e da democracia. Ao voto, cidadãos!
* Deputado do PS na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda e antigo Governador Civil da Guarda