P – Há meio ano afirmou que iria manter-se afastado da vida político-partidária, mantém essa posição?
R – Apesar de ter passado pouco tempo o meu compromisso mantém-se, não tomarei atitudes públicas relativamente a questões internas do PSD. Agora sou obrigado a responder porque o meu nome veio a público, tem havido alguns comentários e especulações [sobre a possibilidade de integrar uma lista encabeçada por Ana Manso] que não correspondem à verdade.
P – Como vê a actividade política do PSD na Guarda nos últimos tempos?
R – Acho que não tem feito oposição visível à Câmara da Guarda, mas isto pode fazer parte de uma estratégia, apesar de não ser muito perceptível. Nota-se uma falta de actividade por parte das pessoas do partido na oposição à autarquia. Apesar de não achar que seja um “partido de surdos”… A prova disso é que se realizou no passado fim-de-semana o “Dia Aberto”, que permitiu a toda a gente visitar a sede do partido e dizer o que pensa. No entanto, é notória a actividade que está a ser desenvolvida pela concelhia a nível das aldeias, no sentido de identificar os problemas e de ter as populações como interlocutores. O problema do partido continua a ser a sua incapacidade em adequar os seus potenciais candidatos àquilo que o povo sente, ou seja, o PSD tem arranjado sempre os seus candidatos à última da hora, excepto nas últimas autárquicas. Mas nesse aspecto houve uma evolução positiva, porque já dá para perceber que há pessoas disponíveis para serem candidatas.
P – Neste momento qual é a sua posição em relação à líder distrital do PSD?
R- Não tive qualquer conversa com Ana Manso desde que anunciei que ia fazer um interregno na vida político-partidária. Mas também não foi necessário. De resto, que tenha conhecimento, não há qualquer aproximação entre pessoas, nem há unidade ou união de pessoas. Há, efectivamente, necessidade de fazer uma união dos militantes, de modo a construir uma estratégia comum. Ou seja, uma unidade do partido em torno de projectos e não de pessoas. Enquanto militante, tenho compromissos com o PSD, mas não com pessoas, nem com estratégias, com as quais não concordo. O único objectivo que tenho é o de ajudar o meu partido a fazer tudo em prol da Guarda e este deve ser o compromisso de qualquer cidadão.
P – Está disponível para integrar uma lista encabeçada por Ana Manso à Câmara da Guarda?
R – Sobre as questões da autarquia da Guarda tenho projectos, os quais, certamente, não coincidem com os de outras pessoas. Não se trata só de ganhar a Câmara, trata-se também de ter um projecto e uma estratégia que possam desenvolver o concelho.
P – Ou seja, o PSD só pode contar consigo se for como cabeça de lista?
R – Como militante, tenho projectos próprios, que construí ao longo dos anos na minha actividade profissional e na minha vivência enquanto cidadão da Guarda, mas eles colidem com projectos de outras pessoas. Em relação a uma hipotética lista, naturalmente, tenho o meu projecto.
P – A propósito das eleições para a concelhia e para a distrital, houve muitos comentários de que os críticos de Ana Manso se retiraram há hora da verdade não apresentando qualquer candidatura. Qual foi a sua posição?
R – Sempre disse às pessoas com quem lido que a minha luta é a Câmara da Guarda, e nunca quis ganhar a concelhia ou a distrital. Por isso, nessa luta, nunca teria uma posição de dianteira ou liderança, mas participei naturalmente nalgumas reuniões com as pessoas que têm feito oposição interna à actual líder da distrital. Sempre afirmei que o meu interesse seria em relação à Câmara da Guarda. Mas para se ser candidato é preciso ter todos os militantes do mesmo lado e, como tal, verifica-se que não tenho anticorpos entre os militantes. Eu nunca assumi posições contrárias ao posicionamento íntegro do partido, há dissonância relativamente à estratégia com a liderança, mas há respeito e consideração pela militância. Por isso, manifestei a necessidade de ter aparecido uma segunda lista e lamento que tal não tenha acontecido.
P – Não estava disponível para assumir uma posição de liderança nos órgãos do partido, mas está para as eleições autárquicas?
R – Cada um de nós tem apetências para determinado tipo de actividade. A liderança da estrutura partidária é algo que em nada me motiva ou fascina, mas há outras pessoas com essas aptidões e mais tendência para esse tipo trabalho. Sou um indivíduo fazedor, até pela própria profissão. Portanto, fazer obras e resolver os problemas das pessoas é o que gosto e gostaria de fazer, o que só é possível numa autarquia.
P – Considera que a líder distrital do partido é uma boa candidata à Câmara da Guarda?
R – Com a sua postura, e honra lhe seja feita, é a primeira vez que alguém aguenta durante um mandato tantos anos seguidos de oposição. No entanto, ainda falta algum tempo até às eleições e ainda não há certezas se é mesmo a candidata, porque a própria líder ainda não o afirmou. Apesar de considerar que há determinados posicionamentos fortes, Ana Manso já devia ter assumido a sua posição publicamente, dizendo se é ou não candidata, para esclarecer e sossegar o partido.
P – Se já houvesse essa posição pública a confirmar a candidatura de Ana Manso, não haveria na mesma estes movimentos internos de contestação?
R – Claro que não. Porque a vivência interna dos partidos leva a que, a partir do momento em que fique decidido em determinado sentido, todos os militantes trabalhem no mesmo rumo. Naturalmente, como militante, também irei trabalhar no sentido que for definido.
P – Mas acha que Ana Manso poderá ser uma boa presidente de Câmara?
R – Pelo seu currículo, enquanto gestora, realizou um trabalho de elevado valor em Castelo Branco. Mas tenho que dizer, com toda a sinceridade, que não a conheço a trabalhar. Ana Manso tem a característica de centrar todo o trabalho e toda a definição de estratégia na sua pessoa, enquanto líder do PSD, numa autarquia as coisas não podem ser assim… Quando se é presidente de uma Câmara deve-se ter uma postura diferente, menos personalizada. Mas o importante é que o partido consiga ter a estratégia correcta. E essa começa pela união das pessoas em torno de um projecto e não pela unidade das pessoas em torno de uma pessoa. Não é o José Gomes ou o Rui Quinaz, ou outros, que foram desconsiderados pela liderança do PSD, que se vão aproximar da líder do partido. Sociologicamente, sabemos que não é assim. Ou seja, quem manda é que tem que tomar as directivas, se a líder da distrital acha que precisa dos militantes unidos é ela que tem que fazer por isso. Se a líder quiser os militantes unidos, tenho a certeza que todos estaremos disponíveis para colaborar com o partido.
P – Mas ainda não houve nenhuma aproximação?
R – Em relação a mim, não. Aproveito para esclarecer que nada tive a ver com um jantar em que os comensais eram Ana Manso, Marília Raimundo e José Gonçalves.
P – Se Ana Manso não for candidata, José Gomes poderá avançar com uma candidatura?
R – Como referi atrás, nesta fase acho que a líder já devia ter tomado posição. Naturalmente estou disponível para a Guarda, mas todas as coisas na vida têm o seu tempo. Ou seja, como cidadão e militante estou disponível para o partido e para o concelho.
P – Que outros candidatos se poderão perfilar à Câmara da Guarda?
R – Álvaro Amaro e Júlio Sarmento, por exemplo… Considero que qualquer um deles poderá ser uma alternativa. Pela sua experiência autárquica e postura, qualquer um deles tem capacidade para encaminhar a Guarda na senda mais certa.
P – O presidente da Câmara de Gouveia, Álvaro Amaro, pode vir a liderar a área metropolitana de Viseu, um claro afastamento em relação à Guarda. Como é que vê esta possibilidade?
R – Isso significa que temos que começar a ver a geopolítica de forma diferente, porque os conceitos de gestão já não são confinados por questões geográficas. Acho que até é bom que Álvaro Amaro tenha um posicionamento de liderança na área metropolitana de Viseu. O que acho mal é que o distrito da Guarda não tenha conseguido segurar os concelhos que foram para Viseu.
P – Neste momento como vê a Comunidade Urbana das Beiras?
R – Penso que é um projecto que está morto a priori. Veja-se a falta de defesa dos interesses da nossa região relativamente às portagens. A ComUrb devia ter uma postura construtiva, dignificante de defesa dos interesses da região, e não se devia limitar somente a exigir que não haja portagens. É um problema que tem que ser tratado de uma forma muito mais ampla pela defesa dos interesses do interior. Mais importante do que haver ou não portagens, é haver criação de riqueza que permita pagar portagens. Mas como não temos…