É inquestionável afirmar-se que uma região é tanto mais rica quanto mais cultos forem os seus habitantes. Nesse sentido em boa hora a nossa autarquia promoveu a construção da nova Sala de Espectáculos, cujo projecto está em vias de conclusão, pelo que se impunha decidir-se quanto à forma de gestão deste equipamento.
Face às várias alternativas, tais como ser a Câmara a gerir directamente, entregar a gestão a uma entidade externa, ou criar para tal uma empresa municipal, foi esta ultima modalidade a escolhida e aprovada pelo executivo Camarário e Assembleia Municipal.
Como qualquer empresa, mesmo pública, haveria que perspectivar e dimensionar a sua actividade, para a partir de aí, fazer reflectir num estudo económico as respectivas receitas e despesas para aquilatar da sua viabilidade.
Assim na proposta que foi aprovada e tendo por base o atrás referido estudo, esta empresa irá realizar por ano, na sala principal, 36 espectáculos de teatro, dança, ópera e música; no pequeno auditório, 48 espectáculos de teatro e musica e 144 de cinema; no café concerto, 60 espectáculos de animação; na galeria de arte, 12 exposições; o que corresponde a 300 iniciativas culturais diferentes por ano.
Para que tudo isto seja possível, esta empresa propõe um quadro de pessoal que contempla: director artístico, director financeiro, secretária de direcção, assistente de programação, serviço educativo, responsável de produção, responsável técnico, técnico de manutenção, electricista, técnico de áudio visuais, técnicos de palco, maquinista de cinema, luminotécnico, sonoplasta, técnico de comunicação e imagem, técnicos de marketing e mecenato, técnico de contabilidade e recursos humanos, técnico de relações publicas, técnico de frente de casa, assistentes de sala, assistentes de bares, assistentes de bilheteira, recepcionista, auxiliares de serviços gerais, e um designer, perfazendo um total de 42 pessoas, fora os serviços de limpeza e segurança que serão contratados à parte.
Para financiar esta “empresa” a Câmara irá atribuir um subsídio anual de 750.000 euros (150.000 contos), podendo ainda vir a reforçar esta verba através de contratos programa. O restante financiamento deste projecto é obtido através de receitas de bar, estacionamento, mecenato e venda de catálogos e bilhetes, sendo que nestes, os preços para os espectáculos da sala principal, que representa o maior encaixe de receitas, se estimam para 2005 em 10 euros, 15 euros em 2006, até chegarem aos 25 euros em 2009.
Para estimar a afluência de público, ela é prevista para 2005 em 80% dos 624 lugares existentes, sendo de 90% nos anos seguintes.
Todos nós sabemos que estamos numa região despovoada e com grande falta de apetência para iniciativas culturais, e mesmo admitindo que alguns espectáculos possam trazer publico de fora, é impensável e completamente irrealista admitir taxas de ocupação como as atrás referidas.
Assim, como em qualquer empresa que produz acima da capacidade de escoamento do seu produto, corre-se o grave risco de rapidamente entrar em processo de falência.
Mas, atendendo a que esta empresa é pública, ou seja municipal, serão as verbas da autarquia, leia-se os nossos impostos, a ter que cobrir estes autênticos devaneios.
Este projecto, em que claramente os olhos são maiores que a barriga, é bem um exemplo da qualidade da nossa gestão autárquica, onde, a pretexto de uma iniciativa cultural, nos colocamos ao nível terceiro mundista.
Por: Álvaro Estêvão