Estamos em campanha eleitoral para o Parlamento Europeu. Na próxima semana vamos votar. Sim, votar para eleger 21 dos 705 deputados europeus, dos 28 estados-membros desde julho de 2013, mesmo percebendo que os votos dos abstencionistas europeus constituirão, (quase) de certeza, a maior força política do parlamento de Bruxelas.
Depois de 26 de maio iremos ter um novo figurino em que os convictos europeístas vão sistematicamente afirmar a sua crença na União Europeia, defendendo todas as soluções para todos os nossos problemas, a salvação da Europa e dos seus estados-membros enquanto, do outro lado (segundo rezam as sondagens, podem ser entre 150 a 200 eurodeputados) ouviremos culpar a Europa por todos os males que vêm ao mundo, por todos os problemas, percebendo-se, em definitivo, que a Europa já não é bem o que era. Se para os primeiros, Bruxelas é a mãe boazinha e protetora de todos os Estados, para os segundos não passa da bruxa má, grande destruidora de identidades, de bons usos e costumes.
Os deputados são eleitos e agrupados por famílias políticas, participando nas reuniões plenárias e nas 20 comissões, sessões adicionais, dedicando-se sobretudo ao processo legislativo comunitário, produzindo relatórios sobre os países da União Europeia. Há quem diga que vão para a Europa aqueles que estão em final de carreira política. Esta forma de pensar é dos anos 80, hoje a coisa também já não é assim e se em fins do século passado havia cerca de 5 milhões de almas, por esse mundo fora, a viverem em oásis, presentemente o número aumentou e já passa muito dos 15 milhões, que procuram esses destinos e espaços paradisíacos. E Bruxelas, neste deserto europeu, faz hoje parte desse cardápio. É o oásis procurado e encontrado para 21 nossos compatriotas.
O vencimento de qualquer dos tais 705 escolhidos é mais de 8.000 euros/ brutos, a que se somam uma série de alcavalas como seja 320 euros/ dia para despesas de alimentação e alojamento, mais 150 euros de reuniões fora da UE, direito a reembolsos de 2/3 de todas as despesas de saúde e no final do mandato subsídio de reintegração igual ao vencimento equivalente a um mês por ano de mandato durante dois anos. Ah pois… Tudo somado são quase de 220.000/ ano, chegando o deputado no final do mandato com mais de um milhão e 200 mil euros no fundo dos bolsilhos. Que inveja sentem os seus congéneres nacionais que só levam para casa uns trocaditos de 5.000 euros por mês!!! E isto sem contar com os vencimentos dos Juncker’s, Tusk’s, Tajani’s, Moedas, e, os outros tais, etc. etc. etc., percebendo que uma simples secretária recebe em média qualquer coisa como 4.000 euros brutos/ mês, a que se somam 740 euros (se estiver fora do país de origem) e quase 400 por filho e ainda mais 250 por descendente em idade escolar. Uma secretária no topo de carreira embolsa no fim do mês qualquer coisa como 6.000 euros brutos/ mês e um intérprete em início de carreira 4.300 euros/mês.
Essa Bruxelas, fria, húmida, desinteressante, longe da pátria cantada por Camões, é de facto o oásis de todos os oásis, de desertos findáveis onde o interesse nacional é sobejamente protegido, o projeto europeu convictamente defendido, o euro aguerridamente preservado e as panças de Sªs Senhorias visivelmente arredondam naquilo que é indiscutivelmente a bem ambicionada gaiola dourada.
Votar no dia 26 de maio tem apenas e tão só uma primeira leitura das legislativas, as tais que realmente interessam e, se calhar, é mesmo por toda esta cadeia de razões que a tal afirmação de Passos Coelho ganha forma, destaque e consistência: “Que se lixem as eleições”.
No entanto, prezado eleitor, e vistas bem as coisas, a democracia determina que devemos escolher os nossos representantes e é necessário entender que temos de salvar a Europa, o euro e o refúgio dourado em Bruxelas de alguns dos nossos compatriotas. Por isso no dia 26 deste mês faça um esforço (porque sinceramente é de um esforço que se trata) e vá votar…