No passado domingo, começou o futuro próximo de Espanha. A irrupção da extrema-direita ficou aquém do previsto (as sondagens há poucas semanas chegaram a dar mais de 15% das intenções de voto; teve 10,2%), mas o Vox veio para ficar – porque, entre a Catalunha, o independentismo e os nacionalismos regionais havia também a direita reacionária escondida no PP, os touros, a homofobia ou um nacionalismo espanholista supostamente enterrado no Escorial.
De Espanha “nem bons ventos, nem bons casamentos” dizemos sempre, mas desta vez os ventos que sopram sabem bem. As eleições espanholas tiveram um claro vencedor, mesmo sem maioria, o PSOE e Pedro Sanchez. Mas muito mais do que a vitória de um partido ou de um líder, domingo ganhou o discurso normalizador, social-democrata, moderno, europeu, tolerante e social. O PSOE é o único partido com votantes, eleitos e dirigentes em toda a Espanha e Pedro Sanchez mobilizou os desiludidos da corrupção popular, os jovens e a classe média. E conquistou votos ao Podemos, que foi um dos derrotados das eleições de domingo.
A derrota estrondosa do PP confirmou que é ao centro que se ganham eleições, depois de o jovem Pablo Casado ter conduzido os populares para a direita mais trauliteira e do antigamente e se ter apresentado a eleições com um discurso cheio de arcaísmos e pouco moderado (ainda que afastando a tralha corrupta de Rajoy), apoiado por Aznar e pelos barões do antigamente. Perdeu, e com estrondo, perdendo metade dos deputados que tinha no Congresso. A velha Castela, nossa vizinha, dos touros e das “faenas”, onde o PP dominava, dividiu-se e perdeu-se entre os reacionários do Vox e o centro-direita moderno, cosmopolita e assertivo dos Ciudadanos.
Os bons ventos que nos chegam de Espanha passam pelo regresso dos eleitores às urnas, com uma participação histórica e baixando a abstenção contra a radicalização e o extremismo conservador do Vox, mas também contra o extremismo de esquerda do Unidas Podemos e pelo diálogo e normalização da Catalunha. O PSOE irá governar sozinho (como fez nos últimos 9 meses) e irá procurar apoios pontuais, à esquerda (também com nacionalistas moderados) ou à direita (com os Ciudadanos) para a investidura, aprovação do orçamento e das reformas necessárias. Mas quando se temiam os extremos ganhou o centro, quando se temia uma deriva reacionária ganhou a moderação de Pedro Sanchez e Albert Rivera, em defesa da Europa, do diálogo, das regiões e da Espanha moderna onde cabem todos.