Olhar morto, caído e murcho.
Há sempre uma culpa e uma causa fora.
Detesto o vício trágico do abatimento,
A dor que come e tritura e embebeda.
Renego quem coloca uma bandeira
Na sua depressão e no desconforto
Que a todos salpica ao redor.
O nosso amor acabou
No desconsolo do olhar que me entrega.
Horrível que me afaste?
Não quero vivenciar dores que não sinto.
Não quero banhar-me no Tejo dos lamentos
Nem viver o Mondego das traições
Ou o Douro das chagas e penas.
A melancolia é uma merda que me aborrece.
E porque é triste e taciturna, todos perdoam.
Criticam a gula, ou a raiva, ou a preguiça.
Não gostam de fanáticos e medrosos,
Mas toleram lamúria e choro.
A doença que não consigo e me arrepia
É tristeza, melancolia e saudade.
Detesto a tua depressão e queimo a minha
Mal a sinta ou me aconchegue.
Chorar aqui e ali, doer um dia sem exemplo,
Tolher uma vida inteira? Bolas para essa gente.