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«O caminho do desenvolvimento é não ter preconceitos e experimentar várias soluções»

Cara a Cara

P – Qual é a visão que tem da Guarda?

R – À semelhança de outros distritos do interior, esta região é vítima de várias forças. Ou seja, enfrenta a pressão de dois tipos de forças centrífugas, uma que vem do litoral português e outra do processo de integração europeia, com origem em centros económicos europeus. O caso da Guarda não é excepção e aí tem o desafio de encontrar soluções. Não é evidente que o mercado ao funcionar livremente permite encontrar respostas, as quais viabilizem a continuação de uma actividade económica sustentada na região. Aliás, o caso da Guarda relaciona-se também com a função histórica desta área na vida económica portuguesa, que, para além de um papel económico, teve também uma função estratégica. Creio que hoje em dia o país, no seu conjunto, tem tido alguma dificuldade em conceptualizar a função estratégica do interior. Mas esta é uma assimetria que não é nova, já advém do Estado Novo. No entanto, neste momento, com muitas pressões a sentirem-se ao mesmo tempo, essas realidades são mais evidentes.

P-Como caracteriza a situação económica do distrito da Guarda?

R- O distrito tem um problema real de convergência económica para o resto do país. Essa dificuldade reside no facto das diferentes zonas do distrito não convergiram, ou seja, o crescimento económico no país é superior ao da Guarda. Mas isto não é um facto de agora, pois atravessou toda a década de 90. Por outro lado, o pouco crescimento económico que houve está centrado na cidade da Guarda. Por isso, nos últimos dez anos foi o único concelho que ganhou população. Nesse sentido o distrito está a ficar bipolar. Tudo isto está ligado a um relativo declínio e a uma reestruturação em curso de algumas indústrias tradicionais, que perderam muito emprego, principalmente aquelas que estão relacionadas com os recursos naturais, como os lanifícios ou os têxteis. Algumas relacionam-se simultaneamente com a actividade empresarial regional, mas também há investimentos estrangeiros, como é o caso do vestuário. Mas há outros problemas. Nas últimas décadas, o distrito da Guarda registou uma diminuição e envelhecimento da população residente, o que se reflecte ao nível do emprego.

P – A Guarda tem retirado dividendos económicos da sua localização geográfica?

R – Há alguns casos onde tem crescido o emprego, por exemplo, na indústria de transportes. Devido possivelmente à situação estratégica. Mas é bom que essas potencialidades sejam aproveitadas. Tal como há também alguma valorização dos produtos da região, que se reflecte no crescimento do emprego, nomeadamente na indústria de lacticínios e de carnes. O que é um fenómeno muito interessante, porque traduz uma possibilidade de valorizar os produtos da região.

P – Que caminhos preconiza para o futuro desta cidade?

R- Não há caminhos. Como vivemos num período de grandes transformações, o que é natural é uma economia de mercado e neste momento, no quadro institucional europeu, é esse o trajecto a seguir. Mas para defender isto há só um caminho. O que caracteriza a economia de mercado é que ela é, na sua essência, um processo de tentativa e de erro. Os empresários têm que experimentar vários caminhos, desses a maioria vão à falência, mas os que forem bem sucedidos, compensam os outros. O caminho é esse, não ter preconceitos e experimentar várias vias. Agora o Estado tem alguma função, conceptualizando nomeadamente, o papel do interior na nossa economia e vida social.

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