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Reflexão, loucura e comédia no Festival de Teatro da Guarda

Edição de 2004 arranca segunda-feira no auditório municipal para terminar dia 29

O Festival Internacional de Teatro da Guarda salta segunda-feira para o palco do auditório municipal com a peça “Gestos para Nada”. Trata-se do primeiro dos dez espectáculos de teatro programados para a edição deste ano e nada melhor para começar que uma reflexão sobre o teatro, os actores e o público. Durante a próxima semana pode ainda ver na Biblioteca Municipal a exposição de teatrinhos de papel dos séculos XVIII a XX, de A Tarumba – Teatro de Marionetas, ou desfrutar da programação alternativa do café-concerto, todas as noites, na sede do Aquilo Teatro, no Largo do Torreão, após as representações.

Dinarte Branco e Nicolau dos Mares (Portugal) inspiraram-se nos originais “Pervertimento” e “Outros gestos para nada”, do dramaturgo e encenador castelhano José Sanchis Sinisterra, para denunciar em “Gestos para Nada” todos os mecanismos e elementos que constituem uma peça de teatro. Cruzando os universos de Beckett e Pirandelo, esta peça coloca questões insólitas e um pouco absurdas no que toca ao autor, à autoria dos textos, ao texto, ao público, à palavra, ao silêncio, à personagem e às motivações artísticas. Desmonta as convenções para colocar questões existenciais sobre os artistas que, «afinal, são como todos nós». A interpretação e encenação são de Dinarte Branco e Nicolau dos Mares. Na terça-feira o pano sobe para dar lugar à perturbadora produção “Nos cabelos da loucura”, da Associação KARNART (Portugal), onde José Neves, actor natural da Guarda, e Dora Bernardo se digladiam na cela de uma prisão de alta segurança, numa luta sem tréguas entre o bem e o mal. A peça é da autoria de Virgílio Almeida. Na quarta muda-se de registo e entra-se na comédia delirante dos espanhóis da Companhia Yllana.

O espectáculo “666” é uma farsa macabra e irónica à volta do “número da besta”, tendo por pano de fundo o corredor da morte onde quatro condenados à pena “máxima” esperam pela última hora e sucumbem depois na forca, na cadeira eléctrica, na guilhotina… para “matar” o público de riso. Trata-se da terceira produção da Companhia Yllana e uma ironia sobre a violência e a morte graças a uma estonteante sucessão de “gags” e situações absurdas. Fidel Fernández, Raúl Cano, Joe O´Curneen, Antonio de la Fuente promete prometem fazer rir até não se poder mais, sob a direcção de David Ottone. Três produções que vão abrir o apetite para o que aí vem até dia 29. O Festival Internacional de Teatro da Guarda, organizado pela autarquia e o Aquilo Teatro, aposta este ano num espaço café-concerto que será diariamente, após os espectáculos, na sede do Aquilo, no Largo do Torreão um ponto de encontro alternativo e descontraído. Públicos e artistas serão convidados a partilhar gostos e saberes, num ambiente animado por pequenos espectáculos de carácter informal e manifestações artísticas diversas e abrangentes. O café-concerto tem uma programação regular durante os próximos dez dias, sempre a partir das 23 horas, é de entrada livre e abre com o projecto musical Buster Biz (dia 20), seguido dois dias depois pelos G-Ward, ambos da Guarda. Outra das propostas envolve terça-feira uma banda sonora de Victor Afonso e a performance de Teresa Oliveira.

Luis Martins

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