O sol há muito que deixou de conseguir romper por entre a maioria das frinchas nas portadas, estores, persianas que, por uma razão ou outra, teimam em fechar as janelas das salas de aula. Numas dizem que a luz direta reflete no quadro e os alunos não conseguem ler o que nem sempre lá está escrito, noutras, por ficarem ao nível do chão, são os olhares de quem possa andar ali pelo pátio que incomodam ou distraem os de dentro. Motivos para, pelo menos neste canto do país, a regra nas escolas ser luz acesa, todo o dia, do outono à primavera, não faltam.
O que me falta é capacidade para entender porque é que muitas destas escolas ostentam, orgulhosamente, uma bandeira branca com desenhos verdes e azuis, à laia das cores da natureza, a enquadrar a denominação de eco escola. Galardão, supostamente, atribuído a escolas que, com certeza, se regem por princípios amigos do ambiente. Imagina-se então, ainda que por muito boa vontade, que nessas escolas a luz elétrica só estará ligada o dia inteiro por incapacidade de armazenamento da energia produzida pelos painéis solares hasteados ao lado dos outros pendões, mais ou menos, tão herméticos como o da eco escola. Painéis que, talvez por via dos caprichos ventosos, nem sempre serão visíveis à primeira. Entre uma divagação e outra, imagino que, por causa dos manuais gratuitos, nestas escolas a fotocopiadora deva estar a mostrar-se um pouquito ferrugenta. Já, se a fotocopiadora não estiver em más condições, por falta de uso, assumo que nessas escolas ecológicas gostam de poupar as costas dos alunos e preferem não os deixar carregar, diariamente, com todos aqueles quilos de papel.
Contudo, será por épocas carnavalescas que a sensibilidade ecologista destas escolas merecedoras de tal galardão mais se evidencia. Faça sol ou chuva, a maioria da garotada mais a pender para ultrajada que para trajada, malgrado a azáfama das últimas semanas, há de desfilar pelas ruas das nossa cidades, vilas e aldeias. Pois, independentemente do mote, há que justificar todos os baldes de tinta, cola, rolos de fitas, cartões e cartolinas, gastos na reciclagem das embalagens de detergente, revistas e jornais velhos trazidos de casa. Acima de tudo, há que incutir nas gerações mais novas que a reciclagem é indispensável à sustentabilidade do planeta e que se pudermos aproveitar algo que já é lixo, aplicando-lhe umas demãos de tinta, uns toques de cola e uns retoques de mais um bocadinho de plástico, cartão ou, melhor ainda, uns glitter já não serão bem lixo. Pelo menos não serão lixo barato. Depois da grande trabalheira a cortar, pintar, colar, decorar e retocar o lixo, de qualquer cor e origem, fica muito mais valioso. Note-se que não deixou de ser lixo! Nem era para deixar. Apenas se lhe acrescentou valor, em dose suficiente, para nos aliviar a própria consciência ambiental. Essa e o bolso que isto de reciclar não é coisa barata.
No fim de todos os desfiles, de carnaval e de reciclagem, hão de imprimir-se os registos de todos os exemplos. As melhores fotos ajudarão, com certeza, a conservar, ou mesmo conquistar, a bandeira que distingue as “eco escolas”. Seja lá isso o que for!