O Escurinho não é nem pode ser clarinho. É escurinho e vai continuar a ser escurinho.
A partida (às vezes, traiçoeira), à partida, envolve riscos mesmo percebendo que os homens dos partidos se transformam, eles próprios, em metáfora política e a nictofobia pode afetar múltiplos sentidos ao entender-se o medo de ser atacado por fantasmas, bicharada ou outra qualquer espécie de animalóides que lhes possam tirar o sono. E, se a cromofobia é o medo das cores, que dizer da melanofobia onde o preto, o escuro, o papão é o monstro que lhes dá volta ao miolo.
No escurinho de Bebel Gilberto e Pedrinho Rodrigues diz-se que «comigo não há embaraços e vem daí que eu faço» para se escutar que «no escurinho do cinema, chupando drops de anis, longe de qualquer problema, perto de um final feliz», tudo pode acontecer. Até o simples som do estalido de uma pequena pipoca.
A história é rica em escurinhos. Passámos agora o Natal e uma das suas personagens é o escurinho rei Baltazar que ofereceu ao menino aquela resina aromática conhecida por mirra.
Se a memória não me falha, a originalidade vai para o líder da CGTP quando alcunhou o representante do FMI na “troika”, aquela que tanto nos lixou e a cromotomática laranjinha tanto ajudou, o etíope, Abebe Selassie, por rei mago escurinho.
E se o epiteto foi na altura considerado depreciativo e racista que dizer da tal escuridão, onde, na falta de argumentos, o discurso torna-se sombrio, turvo e a ausência de claridade obriga-nos a fazer ginástica necessária para tentar compreender, mesmo que tudo isto seja feito em plenário democrático, em dezembro passado, observado por um brasão falconado constituído por um escudo negro de listel branco, com castelo de ouro, vinho de qualidade e legendado a preto.
Ele há cognomes que o marketing político designa que nem todas as Venturas do mundo conseguem efetivamente denegrir e, se calhar, com algum ciúme e dor de cotovelo pela obra realizada e a realizar (pois o anterior clarinho foi tão fraquinho) que este escurinho assemelha-se mesmo ao Toyota. Veio para ficar e fica mesmo. E pelo andar da carruagem arrisca mais quatro anos.
E, quer se goste quer não, quer se mude a ideia do escuro, ou não, o escurinho vai continuar a ser escurinho. São verdades indiscutíveis de uma Ventura desventurada que nem Palisse consegue desmentir.
Realmente há coisas que nunca mudam…