P – Porque surge o Movimento de Apoio à Saúde Materno Infantil do Distrito da Guarda?
R – O Movimento de Apoio à Saúde Materno Infantil do Distrito da Guarda (MASMI) surge num contexto de um grupo de cidadãos e utentes destes serviços, responsáveis e conhecedores da realidade das instalações físicas dos mesmos, que consideramos indignas deste século. Não nos podemos esquecer que têm mais de cem anos. Somos um grupo de cidadãos que se preocupam pelo seu distrito, pelas suas gentes, sua saúde e bem-estar. Exigimos um espaço digno, com equidade de oportunidades, de direito ao acesso a serviços com condições e estruturas físicas dignas. A requalificação do Pavilhão 5 tem que acontecer, para isso surgiu este Movimento, que quer contribuir de forma ativa para que isso seja uma realidade. Esta é uma causa de todos e para todos!
P – Há quase vinte anos existia na Guarda o Movimento pela Criança, de defesa da Pediatria. Volvidos estes anos a sociedade civil volta a mobilizar-se por uma causa similar. O que correu mal nesta área para termos voltado ao ponto de partida?
R – É saudável que os cidadãos estejam sempre atentos, mobilizados e interessados. O Movimento só mostra que o interior está ativo, está vivo, tem gente que quer ver crescer o seu distrito, o seu Hospital e se preocupa com a dignidade de todos os que o habitam. É do conhecimento público que houve algumas conquistas, nomeadamente o reforço do corpo clínico nos serviços e a aquisição de novos equipamentos que permitem maior eficiência e eficácia nos cuidados e tratamentos. Foi ganha também a luta contra o encerramento da maternidade da Guarda. Hoje temos uma maternidade acreditada pela UNICEF, o que faz do Sousa Martins um “hospital amigo dos bebés”. É uma acreditação que só existe em três hospitais da região Centro: Guarda, Viseu e Coimbra. Há vários anos que este serviço oferece a possibilidade de parto com epidural. Desta forma foram dados passos importantes para a credibilização dos serviços e uma transmissão de confiança para os seus utentes. Na nossa opinião, o que falhou, ou correu menos bem, e que é uma herança transversal aos sucessivos Governos, é a falta de sensibilidade e a incapacidade de alocar as verbas para as obras do Pavilhão 5. Trata-se de um edifício com cem anos e é imperioso um espaço físico moderno, mas sobretudo digno para todos os profissionais e utentes.
P – Quem, ou quê, tem falhado na resolução dos problemas da Saúde Materno Infantil da Guarda?
R – Ninguém declaradamente irá assumir a sua quota-parte política e não seremos nós a apontar o dedo, nem a estar envolvidos em agendas políticas. A única coisa que podemos dizer é que urge pugnar pela conclusão das obras do Pavilhão 5 dada a existência de projeto e integrado na chamada fase 2. Este projeto, de acordo com a informação transmitida, estará muitíssimo bem delineado, mas não avançou. Por falta de vontade de quem? Não conseguimos compreender.
P – O Movimento já reuniu com a administração da ULS, que outras iniciativas vai realizar?
R – Já reunimos também com o Bispo da Guarda, com a Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela e com os diversos partidos políticos a nível distrital. Recentemente, durante o concerto solidário da Banda da Armada, promovido pelos “Marinheiros da Esperança”, projeto da Marinha Portuguesa, a favor do Serviço de Pediatria da ULS Guarda, tivemos o incondicional apoio a este Movimento e a esta causa. Ainda pretendemos reunir com os autarcas do distrito, instituições e empresas. O passo seguinte será o contacto com os decisores do Ministério da Saúde a nível regional e central. Pretendemos também entregar uma petição pública na Assembleia da República, estando há cerca de uma semana a decorrer a recolha de assinaturas. Com esta petição contamos sensibilizar o Governo para a necessidade premente das obras no Pavilhão 5. A petição pode ser subscrita na nossa página www.facebook.com/mmiguarda. É ainda nossa pretensão mobilizar massivamente a sociedade civil do distrito para uma ação de rua.
P – Vêm aí eleições, não receia que as promessas fáceis e eleitoralistas possam esvaziar a ação do Movimento?
R – Um Movimento não depende de eleições, depende dos seus cidadãos. Os cidadãos estarão sempre presentes, atentos e conscientes das suas necessidades, por isso lutam por elas. Este movimento não se contenta com promessas eleitoralistas, tem de haver algo mais concreto e credível. O tema Hospital já serviu para inúmeras promessas eleitorais ao longo de décadas. Basta! Os objetivos são claros e sendo este um movimento cívico não vamos deixar de lutar pela sua concretização. Em comparação com outros, o distrito da Guarda tem sido esquecido, agora chegou a vez do Hospital Distrital da Guarda.
P – Também partilha a opinião de que há uma estratégia para “esvaziar” o Hospital Sousa Martins relativamente ao Centro Hospitalar e Universitário da Cova da Beira?
R – Achamos que isso seria uma ofensa ao distrito da Guarda e um retrocesso para o desenvolvimento. Este distrito tem uma enorme dispersão territorial e é impensável não existir um Hospital condigno na sua capital. Temos conhecimento que o Hospital da Guarda se encontra em fase de acreditação para ser considerado também um hospital universitário. Essa questão é de facto pertinente, mas há uma outra ainda mais pertinente: havendo serviços com idoneidade formativa, porque não se fixam médicos nesta instituição? Por falta de vontade de quem? Também não conseguimos compreender!
Perfil de Ismael Duarte:
Porta-voz do Movimento de Apoio à Saúde Materno Infantil do Distrito da Guarda
Idade: 58 anos
Naturalidade: Luanda, mas sou guardense desde os 15 anos
Profissão: Gerente bancário em situação de pré-reforma.
Currículo: Trabalhou na indústria farmacêutica e seguros. É gerente bancário. Foi por duas vezes presidente de Associações de Pais em Agrupamentos de Escolas da Guarda, e do Conselho Fiscal de uma cooperativa de agricultores
Livro preferido: “Sinal de Vida”, de José Rodrigues dos Santos
Filme preferido: “Intouchables”, em Portugal “Amigos Improváveis”
Hobbies: bricolage, caminhar na natureza, leitura, musica, cinema, desporto, viagens.
N.R.: Excecionalmente, o entrevistado optou por uma fotografia de grupo do Movimento.