A cidade “mais alta” foi inspiradora para os artistas que participaram na terceira edição do Simpósio Internacional de Arte Contemporânea (SIAC). Durante duas semanas, pintores e escultores nacionais e internacionais deram asas à imaginação e, inspirados pelas “Vanguardas da Memória”, esculpiram peças de arte e pintaram telas. A Alameda de Santo André e a Praça Luís de Camões transformaram-se em ateliês ao vivo e passaram a ser o local de trabalho de 12 escultores e sete pintores, respetivamente.
A finalizar os últimos retoques da sua escultura, Jaime Carvalho veio de Lisboa. Na hora de arregaçar as mangas e meter mãos à obra socorreu-se do tema deste ano: as “Vanguardas da Memória”. «Procurei trabalhar com essas duas palavras», disse o artista, que criou uma figura em negativo, que abraça a pedra e representa a memória, para «interagir com o público», pois «qualquer pessoa pode encaixar-se na pedra e assim dará mais significado» à obra, explicou Jaime Carvalho. A participar pela primeira vez no Simpósio, o escultor acha o projeto «muito interessante» e que marca a diferença pela diversidade de oferta: «Há muitas atividades desde a pintura à escultura, poesia», realça. Mas como este ano o SIAC se estendeu a Vila Nova de Foz Côa, com exposições de serigrafia digital e poesia visual, Jaime Carvalho e os restantes artistas do Simpósio rumaram ao norte do distrito, já no Douro, numa viagem «bastante interessante», considerou o artista, visivelmente impressionado com a visita noturna às gravuras rupestres do Vale do Côa.
Do outro lado do mundo veio Antonina Fatkhullina, que viajou da Rússia para integrar o grupo de 140 artistas, provenientes de 21 países, que participaram no SIAC deste ano. «A Guarda é uma cidade bonita. Não é grande, mas tem edifícios antigos interessantes e pessoas muito generosas», adiantou a artista, que não descarta a possibilidade de um dia voltar. A escultora foi uma das poucas artistas que deixou a pedra de lado e optou por trabalhar o metal para criar uma escultura que simboliza a morte e, simultaneamente, o ficar eternizado na memória: «Quando morres, algo dentro de ti vai para o céu, mas uma parte fica aqui. O que tu vives, o que tu pensas, o que fazes», explicou a artista.
Pintura deu nova cor à Praça Velha
Na Praça Luís de Camões, o “coração” da cidade, sente-se o cheiro a tinta e diluente. Em frente à Sé Catedral, sete pintores de vários pontos do mundo trabalharam ao vivo. Desde quadros abstratos a outros mais vibrantes, há um que chama a atenção de quem por ali passa por retratar a Praça Velha: o de B. J. Boulter. Entre um jogo de cores e um traço flexível, a pintora, que é da Tanzânia e integra o coletivo Algarve Artists Network, fez uma reprodução do espaço e conjugou-o com as canções: «As coisas de memória que se apanha logo são os sons, as canções. Então fui buscar canções que eu conhecia, portuguesas e outras», refere B. J. Boulter, que não esquece a chuva e o frio da cidade “mais alta” – também retratados na sua tela. «A chuva é que foi difícil», queixou-se a artista. Quanto ao SIAC, «é muito bom juntar tanta gente e tantos artistas», considerou a pintora, que diz não conhecer nenhum simpósio como o da Guarda. «Acho que é uma boa iniciativa e muito original», sublinhou B. J. Boulter. Tal como nas edições anteriores, os trabalhos produzidos nestas duas semanas vão ser doados à cidade pelos artistas e integrarão o espólio do Museu da Guarda.
Sara Guterres