50 anos depois de um maio que soube lutar por uma sociedade livre de preconceitos, onde as ideias fervilhavam trazendo ao de cima tudo o que havia naquela época, dando sabedoria a quem não a tinha, denunciando as múltiplas injustiças, na pátria da revolução, abanando consciências, numa luta onde as mulheres ganham destaque e, de mãos dadas estudantes e operários promovem a maior greve geral jamais vista em toda a Europa.
A história dos anos 60 é rica em acontecimentos havendo necessidade de refletir em tudo aquilo que se passou neste mundo em constante mudança:
O movimento hippie, a contestação à guerra e ao preconceito (“make love not war”), a emancipação sexual, a música dos Rolling Stones, Beatles, Elvis, Chico Buarque, Bod Dylan, Joan Baez, a luta contra o “apartheid”, o assassinato de Martin Luther King, a contestação à guerra no Vietnam, a revolução chinesa nesse desabrochar das 100 flores num salto adiante que mais não foi que uma vénia ao culto à personalidade daquele livro vermelho, que anos mais tarde ficaria reduzido à Camarilha dos quatro. E depois temos o “socialismo de rosto” de Alexander Dubcek, onde as duas mil palavras sustentam a “insustentável leveza do ser” dando voz ao resistente soldado Chveik, sem nunca esquecer Jan Palach, que levou o seu esforço até ao limite de todos os limites na luta pela liberdade.
Maio de 68 pôs tudo a nu menos a vida. E se por lá, De Gaulle e Cª abdicaram, por cá, Salazar caía da cadeira de lona no forte de Santo António da Barra deixando que Marcelo inaugurasse, ainda que por pouco tempo, a chamada “Primavera marcelista”, que mais não foi que um pequeno balão de oxigénio que se esgotou em poucos meses deixando que os ultras do regime levassem a deles avante.
Nesses benditos anos 60 recordam-se seguramente do episódio entre Américo Tomás e Alberto Martins, aquando da inauguração do edifício das Matemáticas na Universidade de Coimbra. E as detenções que se seguiram. E os jovens levados à força para a guerra, que entretanto tinha sido iniciada pelos movimentos de libertação dos povos soberanos da Guiné, Angola e Moçambique.
Maio de 68 foi tudo isto. Foi uma lufada de ar fresco contestando as mentalidades conservadoras dos dirigentes europeus. Maio rompeu com velhas e ordinárias práticas ao dar aquele grito onde ecoava permanentemente a palavra liberdade.
Maio afirmou que a guerra não é nem pode ser um procedimento normal.
Maio soube transportar-nos para um outro patamar e, cinco séculos passados, mesmo neste mundo que pula e avança, somos agora capazes de assumir outras e novas formas de estar, embora se dê conta de uns quantos velhos do Restelo, que no seu passeio de Belém, continuem teimosamente a afirmar que o rei não vai nu.
Olhando para o mundo atual, para esta “Escola de Ditadores” tão bem descrita por William J. Dobson, salta-nos à vista os donos disto tudo, quais fantoches ordinários, de mentalidade belicista como Trump, Kim Jong-un, Al-Bashir, Bashar Al- Assad, Netanyahu, Hassan Rouhani, Maduro, Temer, Ergodan, Putin, os etc. todos e, por último havia de nos calhar na rifa os pouco cinco estrelóides. C’os diabos.
Razão completa para Erich Hartmann quando afirmou que «a guerra é um lugar onde jovens que não se conhecem e não se odeiam matam-se entre si, por decisão de velhos que se conhecem, odeiam-se, mas não se matam». Maio conseguiu mudar muita coisa. Houve efetivamente esta que nem Maio nem ninguém consegue mudar. Verdade, verdadinha…Quem se lixa sempre é o mexilhão.
E se todos percebemos a necessidade de um novo Abril para dar seguimento a Maio, fica-nos a impressão que das cantigas do mês das flores apenas iremos continuar a soletrar «verdes prados, verdes campos/onde está minha paixão/ as andorinhas não param/umas voltam, outras não».
Por: Albino Bárbara