Talhar, cortar e costurar, os três passos necessários na produção de vestidos para meninas de países subdesenvolvidos, na sua maioria em África.
“Dress a Girl Around the World” é um projeto internacional que chegou a Portugal em 2016 e que Elisabete Dias levou para a Covilhã no ano seguinte após uma reportagem televisiva.
Fundado pela americana Rachel Eggum Cinader em 2009, o “Dress a Girl Around the World” começou por produzir vestidos para meninas até aos 12 anos, com o objetivo de as proteger dos predadores sexuais. Depois de tudo acertado com a responsável do projeto em Portugal, foi no atelier “Happy Handmade”, de Elisabete Dias, que a solidariedade se juntou ao corte e costura e surgiram os primeiros vestidos, todos pelas mãos de voluntárias. Começou com encontros pontuais naquele espaço, mas rapidamente o projeto atravessou as paredes do atelier. Também dedicada ao voluntariado, Albertina Morais juntou-se a Elisabete Dias e tem dedicado muitos dos seus dias à confeção de vestidos, mas não só, pois aproveita também para divulgar o projeto e tem conseguido juntar cada vez mais voluntárias à causa.
Num ano, a “Happy Handmade” já enviou cerca de 500 vestidos e tem uma nova meta: «Gostava que só no próximo envio seguissem 200», afirma Albertina Morais. Um número elevado mas que não é impossível, com voluntárias a trabalhar na Covilhã, Barco, Coutada, Paúl, Cortes do Meio, Tortosendo e Fundão, mas também a partir de Coimbra e de Almodôvar. «Qualquer pessoa pode juntar-se a nós», adianta Elisabete Dias, acrescentando que até mesmo quem não sabe costurar pode contribuir de outras formas. Uma das normas do projeto é que não se aceita dinheiro, só a doação de tecidos de algodão, linhas e elásticos. «É uma iniciativa que depende a 100 por cento da solidariedade e que apenas necessita de criatividade e boa vontade», afirma a sua dinamizadora na região.
Nem sempre os tecidos doados servem para fazer um vestido completo, pois existe um molde que tem de ser respeitado, mas nada se desperdiça. Albertina Morais conta que «não tenho panos nenhuns em casa, aproveito tudo». Quanto mais colorido «melhor», afirma, e a verdade é que até agora não há um único vestido igual. Cada um tem ainda um bolso e lá dentro seguem umas cuecas, sendo que cada peça está identificada por uma etiqueta da associação.
Voluntárias acompanham vestidos até ao destino final
Terminados os vestidos há que enviá-los para Lisboa e também aqui o projeto conta com a boa vontade dos bombeiros, que os transportam para o atelier responsável. Daqui seguem para o país destino, num processo sempre acompanhado por voluntárias da “Dress a Girl Around the World”, que, com apoio da TAP, vão entregar as roupas às crianças. Esses momentos finais são depois partilhados com as restantes voluntárias através de fotografia e «essa é a maior riqueza», confessa Albertina Morais. Um sentimento completado por Elisabete Dias, para quem «não há nada melhor do que o sorriso de felicidade daquelas crianças».
Ambas falam do projeto como uma «terapia» e de uma ocupação para a qual «nos falta tempo». Apesar do muito que dedica à preparação dos vestido, Albertina Morais considera que «aquilo que recebo é muito mais do que o que dou». Elisabete Dias concorda e acrescenta que o resultado final «deixa-nos de coração cheio e com vontade de querer colaborar ainda mais». Um sentimento que parece ser partilhado por todas as voluntárias. A mais velha tem 87 anos e é também uma das mais dinâmicas: «Anda todos os dias num lufa-lufa a querer produzir mais e mais», adianta Albertina Morais. Costureiras nas horas vagas, agora para além dos vestidos, o grupo de voluntárias da Covilhã tem uma nova tarefa em mãos: a produção de calções para rapazes. Entretanto, já no próximo dia 28 está marcado um novo encontro das voluntárias, que vai decorrer no atelier Happy Handmade e que será também aberto a todos os que quiserem conhecer a iniciativa.
Ana Eugénia Inácio