Os elogios ao turismo, à descentralização e às medidas de discriminação positiva do interior são, por estes dias, maiores do que aqueles que recebem as sessões fotográficas de Irina Shayk em lingerie. Tivesse esta divina trindade conta de Instagram e o número de fiéis seguidores já nos governaria por conta da colecta líquida de likes. Qual Xau Tira Nódoas da política da coesão territorial, elimina a ineficiência do Estado, é catalisador de Tuk-Tuks e tem enzimas ativas de rejuvenescimento demográfico. Nesse contexto e de forma coerente, uma das ideias é passar a denominar a região de Turismo do Centro de “Coimbra- Centro”.
Uma ampliação e mudança de nome do “Portugal dos Pequenitos” com a devida instalação à escala das ocorrências mais significativas nesse território de mar, serra, neve, sol, xisto, areia e com tanta afinidade como são o surf da Nazaré e os adufes da Idanha, só pode ser uma boa ideia. Uma ida ao “Little Portugal” poupará dinheiro nas portagens, curvas para o Piodão e visualização de eucaliptais queimados. Pena que esta medida inviabilize a promoção turística do IP3 caso a morte assistida venha a avançar.
Mas a questão deveras estruturante nesta faixa da Guarda é o Hotel Turismo, em que o PS atira com pedras e o PSD responde com rockets. Saber porque tem de existir mão do Estado para insuflar vida artificial ao espaço, quem o desenvolverá, sob que condições, quando abrirá portas ou com que garantia, são “peaners”. Importante é saber onde se assinou o contrato. Isso sim é uma questão vital para o concelho, que merece toda a estratégia política e linhas escritas associadas. Num momento em que as portagens são mais caras que atravessar o Atlântico numa “low cost”, e a minha carteira se contorce sempre que um eleito deslocado nos visita e entra numa estação dos CTT, entendo que Lisboa foi uma ótima opção.
Com a política no zénite, é realmente um mistério insondável a alienação do povo. Aposto mesmo que já ninguém dorme só de pensar na festa da cerimónia de lançamento da primeira pedra da obra. Para evitar problemas deste tipo sugiro a zona desmilitarizada do paralelo 38, já que parece ter efeitos afrodisíacos nesta altura do ano, tal o grau de envolvimento entre os líderes coreanos.
Para ocupação do território deslocam-se funcionários, subsidiam-se, são majorados, movem-se institutos… Medidas com grande efetividade prática como temos constatado em políticas semelhantes, nomeadamente na captação de clínicos para o interior do país. Uma forma justíssima de tratar todos aqueles que decidiram resistir ao apelo do litoral. No mínimo sugiro que todos os que venham “repovoar” este interior – que nalguns casos começa logo poucos quilómetros depois do mar – sejam monitorizados com pulseira eletrónica e sujeitos a descargas elétricas, não vão esses malandros trabalhar em Oliveira do Hospital e ir dormir a Coimbra-Centro.
Na Guarda o parque de campismo está fechado e é a base de serviços de apoio de uma multinacional de recursos humanos, o Caldeirão tem uma piscina ancorada há um ano (demagogos vão dizer que foi eleitoralismo), as telas tapa vergonhas da Praça Velha já não disfarçam nada, mas está tudo bem. A Guarda bem que podia cantar “I’m not your toy”…mas de facto é.
Por: Pedro Narciso