Joana C. Pereira
Sempre que tenho vontade de ouvir obras para canto do compositor argentino Astor Piazzola procuro saber, de todas as vezes, se existe uma versão interpretada pela grande cantora italiana Milva.
Milva é dona de certas características que, a meu ver, a tornam na intérprete ideal das personagens fortes de Piazzola: a sua voz grave, cheia, redonda, mas também brilhante, a sua intensidade dramática, a sua musicalidade natural aliada a uma força de carácter que lhe é totalmente transparente. Milva domina efetivamente a personagem, a música e o palco. A voz desta cantora é de uma qualidade rara e parece ter sido feita com a finalidade precisa de cantar as lindíssimas obras de “nuevo tango” (uma categoria de tango que adota influências do jazz e da música clássica) do compositor argentino.
A música é, em si, intensa e apaixonada, mas Milva consegue ampliar ainda mais esse efeito com a sua força interpretativa. Sempre equilibrando a força e a garra dos clímax musicais com secções de suavidade e de vulnerabilidade, ela conduz as linhas melódicas de uma forma tocante que potencia ao máximo a experiência auditiva do ouvinte, inebriando-o.