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Miguel tem Portugal no nome e mais de 20 mil quilómetros nas pernas

De mochila às costas e com mais de 20 mil quilómetros nas pernas, Miguel Portugal só descansa quando passar por todas as capitais de distrito e 278 sedes de concelho de Portugal Continental. A Guarda foi paragem obrigatória na semana passada e daqui a dois meses tenciona chegar ao seu “último” destino: Penela.

Em março de 2014 Miguel Portugal decidiu partir de Biarritz (França), onde estava emigrado, em direção aos Caminhos de Santiago (Espanha). Os primeiros passos estavam dados e quando regressou ao seu país natal deu corda aos sapatos para caminhar entre as capitais de distrito e as 278 sedes de concelho. Há quatro anos que palmilha Portugal de lés-a-lés.

Sempre com a “casa” às costas, ou melhor dizendo, a mochila, Miguel tem Portugal no nome e garante que esta viagem é por amor à pátria: «Larguei tudo. Conhecer as pessoas, as regiões e as tradições é o que me motiva», admite o viajante, que é natural de Coimbra. «Trago roupa, a tenda, o saco de cama, algumas recordações que me dão pelo caminho, produtos de higiene e os carimbos que recolho nos locais, que provam o que estou a fazer», adianta Miguel Portugal, cujo fiel companheiro nesta jornada é um mapa carregado de fita-cola. Na semana passada os caminhos trouxeram-no até à Guarda. De Manteigas a Maçainhas, passando por Valhelhas e Fernão Joanes, Miguel Portugal não se coibe de dizer que «a região é lindíssima» e, conhecendo o país como a palma da mão, garante que «é pena não ser melhor aproveitado».

Cinco dias foram o suficiente para descobrir os recantos do distrito e, sem mais demora, partiu na passada quinta-feira rumo a Figueira de Castelo Rodrigo. Mas antes, já a pensar na próxima etapa, que consiste em bater serras, rios e castelos de Norte a Sul até junho de 2020, deu corda aos sapatos em direção ao Sabugal para visitar as fortalezas de Vila do Touro, Vilar Maior e Castelo Mendo. De olhos postos no mapa, Miguel Portugal desenhou o percurso para as próximas semanas: «De Figueira vou direito a Freixo de Espada à Cinta, para depois fazer Alfândega da Fé e Mirandela, onde já estive, mas não tenho o carimbo da Câmara Municipal», enumerou. Daí descerá a Torre de Moncorvo, Vila Nova de Foz Côa, Mêda, Trancoso, Pinhel, Celorico da Beira e Fornos de Algodres. Com mais alguns quilómetros nos 20 mil que já “tem” nas pernas, caminhará em direção a destinos mais a Norte – Maia, Valongo e Gondomar –, para depois descer até Pombal e Penela, onde tenciona estar «dentro de dois meses».

Como diz o provérbio, “parar é morrer” e nem a chuva, acompanhada do frio, impediu o conimbricense de se fazer ao caminho. Pior do que as condições climatéricas «são os sítios improvisados onde durmo», reconhece Miguel Portugal, que já passou noites em casas abandonadas, postos de vigia, praias fluviais ou antigos sanatórios. «A minha primeira tenda foi destruída por um javali. A partir daí andei dois anos só com o saco de cama», recorda o caminheiro, confessando que o que mais lhe custou quando partiu nesta aventura foi «ficar sem o conforto» da sua casa. Mesmo sem as comodidades a que estava habituado, a vontade de terminar aquilo que considera uma “missão de vida” manteve-se mais forte e a palavra desistir não consta no dicionário deste conimbricense: «Não é por ter uma facilidade ou uma dificuldade que vou parar», garante.

Por estrada ou terra batida, a subir ou a descer, Miguel Portugal chegou a caminhar três dias seguidos, mas não repete a dose e a sua média diária é entre as dez e as 12 horas. Na cabeça, faça chuva ou faça sol, anda sempre com um boné, cuja pala está cheia de pins personalizados: «Não os posso meter no coração, mas tenho-os sempre na cabeça. São os nossos brasões e os meus amuletos da sorte», sublinha, entre risos. Mas no caminho nem tudo são rosas e a história mais triste, que recorda com emoção, «foi quando perdi a minha avó». Em contrapartida, «o mais alegre é as pessoas que conheço, são uma família», considera Miguel Portugal, que já caiu, já foi quase atropelado e até já esteve rodeado por touros bravos. Apesar das dores nos joelhos, nos braços ou nas costas, o “bichinho” está lá e o conimbricense não vê o futuro sem a caminhada. Mais tarde, «gostava de fazer um livro ou uma exposição com as fotos que tiro», revela Miguel Portugal, que diz ter autarquias interessadas no projeto.

Sara Guterres Com 40 anos, Miguel Portugal caminha entre dez a 12 horas diárias

Comentários dos nossos leitores
leo minuxa leominuxa@gmail.com
Comentário:
Sigo as suas passadas já algum tempo,e, mesmo não vivendo os momentos na primeira pessoa sinto-me como que com ele caminhasse. Independentemente do motivo é de louvar a troca do conforto pelo desconforto o certo pelo incerto e peço a que com ele se cruzar que o apoie da forma que puder.
 

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