José Manuel Barroso (ainda Durão) em noite de eleições europeias, num gesto de singular humildade, perante a mais humilhante derrota eleitoral do centro direita em Portugal, disse aos portugueses que entendeu a sua mensagem e prometeu mais e melhor trabalho.
Alcançámos dias depois o significado deste sentido desabafo: o primeiro-ministro, perante o irreconhecimento da sua aptidão para a política nacional curvou-se ao desejo dos portugueses e anunciava a sua saída.
A incompreensão e a ingratidão dos portugueses tê-lo-ão forçado a aceitar um alto e cobiçado cargo europeu, à sua altura e à medida das suas qualidades, aqui subestimadas.
Prometendo mais e melhor trabalho, teria em pensamento as futuras prestações no espaço europeu?
Ou sugeria já um futuro governo de direita liderado por Pedro Santana Lopes ?
Santana Lopes, quem, nas horas de aclamação ao líder Barroso, destoava em congressos, irredutível, contra José Manuel, invocando a herança de Sá Carneiro e afirmando-se como alternativa.
O mesmo Santana, que ameaçou, tempos idos, abandonar a cena política de tão horrorizado com a ridicularização feita ao seu modus vivendi por uma estação privada de televisão. Curiosamente a mesma onde participaria depois, em concursos talhados para o seu perfil (a cadeira do poder) e comentários do foro futebolístico.
O mesmo que envergou a causa Sportinguista, numa luta sem tréguas contra o que chamava de “sistema”, acabando rendido aos “feitos” do Sr. Jorge Nuno Pinto da Costa.
Do S.C.P à causa Figueirense, foi um passo. E por se tratar de um homem de causas, de muitas causas, divorciou-se da sua Figueira para travar uma batalha eleitoral de maior envergadura para o seu PSD/PPD – a autarquia de Lisboa – que contra a expectativa de todos, incluindo Durão Barroso, e a teimosia de Paulo Portas, venceu. E disse a propósito, não esquecer os que tudo fizeram para sair derrotado…
A sua paixão passou, então, a ser Lisboa e os lisboetas. Decorridos alguns meses, a atracção por Belém viria ao de cima…
E eis quando, num momento em que já não sabia para onde atirar, lhe asseguram a liderança do seu partido e a possibilidade de vir a ser primeiro-ministro de Portugal.
Assim… sem combates internos, sem discursos copiosos, sem ondas, pela mão do piedoso Durão, abraça a presidência do maior partido do governo.
Pois bem, que seja. Será sempre e tão só um problema do PSD.
Desconcertante é o facto de ganhar forma a ideia de que este senhor possa, por sugestão do primeiro-ministro demissionário, encabeçar um novo governo, sem eleições prévias.
À parte das características pessoais do homem que se afigura para substituto de Durão, que fazem recear as mais escrupulosas e sensatas mentes, dentro do PSD, do elenco ministerial em funções e da sociedade civil, subsiste a questão da legitimidade de quem sugere.
Sabe Durão Barroso que o seu governo registou, ao longo destes dois anos, a desaprovação da maioria dos portugueses. Não ignora que sujeitando-se a sufrágio, o PSD e a sua pessoa obteriam hoje, uma retumbante derrota.
Fugir das suas responsabilidades e endossar a governação, perante os indicadores actuais, em absoluto desprezo pelos eleitores, seria uma dupla traição ao País.
Por: Rita Cunha Mendes