“Para a mentira ser segura
E atingir profundidade
Tem que trazer à mistura
Qualquer coisa de verdade”.
António Aleixo
Ainda que o facto tenha sido do conhecimento público já há uns tempos, a problemática que aborda parece-me que justifica a premência de o trazer agora à colação.
Citando de cor, a quadra, escrita há décadas por alguém para quem a instituição escola foi apenas uma miragem, está, mais do que nunca, atual. Isto, dando de barato que existe algum resquício de verdade no chorrilho de mentiras que a seguir se expõem.
Vem isto a propósito do malfadado ranking das escolas. Ano após ano entra-nos casa dentro sem sequer pedir licença. Coisa, já se vê, de uma evidente má criação… Ano após ano, as críticas a este suposto estudo científico são mais do que muitas. E escrevo “suposto” porque em termos de cientificidade deixa muito a desejar. Vejamos:
Cuidaram os responsáveis de ter em linha de conta as múltiplas realidades do país no que a escolas diz respeito?
Cuidaram os responsáveis de elaborar estudos sérios sobre o meio socioeconómico e cultural em que determinada escola se insere?
Cuidaram os responsáveis por tão propalado estudo, divulgado à exaustão ano após ano, de estudar o meio familiar do qual são originários os alunos de determinada escola?
Ou estaremos errados quando, olhando para a realidade dos estabelecimentos de ensino particular, se observa uma clara distinção entre a sua população escolar e aquela que se pode enxergar nos estabelecimentos de ensino públicos?
Terão todos os pais portugueses a possibilidade de colocar os seus filhos em estabelecimentos nos quais se pagam, não raro, centenas de euros por mês?
O que parece transparecer do teimoso e periódico ciclo de divulgação destes estudos é a vontade de apoucar o trabalho que se faz na escola pública, ela própria em luta constante com estrangulamentos de vária ordem que a limitam.
E, ademais, ainda que não conheça dados de fiabilidade comprovada, gostaria de ver realizado um estudo sobre o sucesso de alunos de um e outro sistema (público e privado) nas respetivas faculdades. Poderei estar redondamente enganado, mas não ficaria de todo admirado se todos nós nos deparássemos com algumas surpresas…
Por enquanto continuo a pensar que este estudo vem contrariar o poeta que citei no início e a duvidar que em tudo isto haja réstia de verdade, por insignificante que seja.
Por isso, e voltando ao título deste escrito: é mentira, meus senhores!…
Por: Norberto Gonçalves
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