Em verdade, toda a gente esperava a derrota da coligação Força Portugal, nas últimas eleições europeias. A começar pelo próprio Durão Barroso e pelo PSD. Em política existe um tempo para tomar medidas difíceis e um tempo para conquistar votos. O período até às europeias teria de ser de sacrifício, de reestruturação e de reformas, corrigindo os desequilíbrios estruturais do país herdados de António Guterres. Esta estratégia política correspondeu, aliás, à fase do ciclo económico da estagnação, que obviamente foi sentida no bolso de todos os portugueses. Haveria tempo até às autárquicas, para encetar políticas populares, que a esperada recuperação económica tornariam possíveis, por força do incremento das receitas dos impostos.
A derrota eleitoral era, portanto, previsível. O que não era previsível era esta derrota, com números que surpreenderam todos os analistas. Parece-me evidente que a primeira grande explicação para os resultados da coligação foi um erro de previsão do PSD quanto ao ritmo da recuperação económica. E se todos os analistas esperavam um ano de 2004 de plena expansão, as estatísticas vieram confirmar que afinal o corrente ano será, no máximo, de recuperação lenta. Pior, o clima psicológico tem permanecido negativo, apesar do esforço do governo em apontar a luz ao fundo do túnel. E sabe-se como as expectativas psicológicas geram, elas próprias, crescimento económico…
A segunda causa do desaire eleitoral reside na própria campanha, com incidentes que levaram à polarização do sentido de voto. Refiro-me à radicalização do debate, com recurso ao insulto como instrumento político. Sendo duvidoso que alguma vez este tipo de argumentos produza bons resultados, neste caso as consequências foram devastadoras: O dramático desaparecimento de Sousa Franco provocou uma natural onda de simpatia por este político, extremando o seu papel de vítima dos ataques de que foi alvo e fazendo transferir a afectividade dos eleitores para o voto nos partidos de esquerda. Foi um conjunto de incidentes. Mas incidentes caros, que vão ter sequelas na vida política portuguesa.
No centro dos acontecimentos, infelizmente a Guarda foi uma vez mais notícia nacional pelas piores razões. Não será possível quantificar as consequências de um discurso, ainda que impensado, na estatística dos votos. Mas os resultados da coligação, quer no distrito, quer principalmente no concelho da Guarda, não deixam dúvidas sobre o sentido crítico dos eleitores, que penalizaram gravosamente os nossos políticos.
Retirem-se agora as necessárias ilações destes resultados! Durão Barroso terá que aprofundar a prevista remodelação do seu governo. E terá que provar a bondade das suas políticas na opinião dos portugueses. Falta saber, na Guarda, quais as consequências políticas destas eleições. Ficamos a aguardar na expectativa…
Por: Rui Quinaz