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As guerras que aí vêm

Editorial

1. Podemos andar distraídos ou acharmos que o assunto não nos diz respeito, mas, como escreveu Cristina Figueiredo no “Expresso” online, citando a embaixadora norte-americana nas Nações Unidas, os americanos acham que Kim Jong-un está a pedir guerra. Estamos em contagem decrescente para a guerra? Ou, recorrendo ao título do mais recente romance de Paul Auster: ” 4321”, a guerra vai começar!?

2. Entretanto, por cá, a “guerra” é outra. A campanha para as autárquicas ainda não começou mas todos os candidatos vão apresentando os argumentos para convencer os indecisos durante as próximas semanas.

Em todos os concelhos da região, quem está no poder está em clara vantagem e não se vislumbram modificações – os executivos em funções semearam para colher e é pouco provável que haja alguma surpresa (precisamente para evitar a eternização no poder foi criada a lei de limitação a três mandatos, que na Guarda, curiosamente, protagoniza a contradição e antítese da natureza dessa lei: Álvaro Amaro esgotou os três mandatos em Gouveia e mudou de concelho por um mimetismo legal e anedota interpretativa entre o “de” e o “da”; João Prata depois de ter esgotado os três mandatos como presidente da Junta de Freguesia de S. Miguel, com a obtusa agregação das freguesias da Guarda, a lei permitiu que se candidatasse a uma “nova” Junta de uma “nova” Freguesia onde já cumpriu um mandato com zelo mas sem ação ou obra que se visse).

3. Na passada segunda-feira, o PSD (ou o que resta do PSD da Guarda e os apoiantes de Álvaro Amaro) apresentou a linhas programáticas para os próximos quatro anos num espaço bem requalificado pelo atual executivo, o Chafariz da Dorna, mas estranhamente pouco concorrido (fora os integrantes das listas da candidatura, só estavam, praticamente, os arregimentados do presidente) – onde Álvaro Amaro pediu uma «vitória forte» (aludindo à pretensão de manter os 5-2 de 2013 ou até aumentar o score) e apresentou um pacote com os 10 compromissos prioritários, e em que a única novidade foi a explicação das medidas de fomento ao emprego (a principal lacuna e crítica aos quatro anos do atual mandato). Recorde-se que há quatro anos Amaro apenas se comprometeu com a reabertura do Hotel Turismo, que, todavia, ainda não aconteceu, apresentando vários outros reptos mas sem se comprometer, ao contrário do que fez agora em que assumiu um pacote de medidas calendarizadas (ainda que já anteriormente divulgadas) como os passadiços do Mondego ou o Centro Tecnológico Automóvel.

4. Também segunda-feira, o PS (ou o novo PS que Eduardo Brito está a tentar construir depois da rutura que há quatro anos Vergílio Bento provocou, e para o qual conta com o apoio de “velhos” socialistas e antigos dirigentes do PSD, como Jorge Libânio, que foi presidente da concelhia laranja nos primeiros anos do domínio de Álvaro Amaro, ou Carlos Gonçalves, que foi presidente da concelhia e vereador à Câmara da Guarda eleito pelo PSD há 20 anos). Numa apresentação de quase duas horas (!!!), a candidatura socialista anunciou algumas ideias relevantes, como a promoção da Guarda como “cidade inteligente”, com a aposta num Centro Empresarial e numa incubadora de empresas, em especial da área digital, ou um Laboratório Europeu de Blockchain, a aposta na agricultura biológica ou a recuperação da “estrada verde” de ligação à Serra, tudo tendo como meta atrair empresas, promover o emprego e fixar pessoas. Arrojada, mas não levada a sério por um auditório surpreendentemente cheio, o coordenador do programa, António Gil, dedicou alguns minutos à explicação do projeto de uma moeda virtual, o “Sancho”, para ser utilizada nos pagamentos no comércio local. Outra ideia importante, e recorrente, será a aposta dos socialistas na vitalização do Centro Histórico, apostando nomeadamente nos jovens e na cultura (zona para onde a candidatura do CDS apresenta uma ideia similar com a criação da “Fábrica da Cultura”).

Luis Baptista-Martins

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