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E depois das Europeias?

Menos que Zero

Mais um acto eleitoral, mais uma carrada de declarações de vitória e mais um monte de desculpas para justificar as derrotas. Descontando meia dúzia de exageros, a verdade é que o PS e o Bloco de Esquerda ganharam, a coligação PSD/PP e o PND perderam e a CDU conseguiu passar despercebida.

O PS teve uma grande oportunidade para caminhar firme rumo à vitória nas próximas Legislativas, mas Ferro Rodrigues deitou tudo a perder ao anunciar a sua recandidatura à liderança do PS. O secretário-geral socialista bem poderia ter aproveitado esta ocasião para libertar o partido da sua incómoda presença, deixando como legado a maior vitória de sempre. Face à mais que provável recusa de António Guterres em ser o candidato do PS à Presidência da República, Ferro Rodrigues poderia ser mais uma vez a bandeira do partido, assumindo a candidatura socialista e ganhando um lugar de destaque na galeria de honra dos socialistas. Faltou a coragem.

A permanência de Ferro Rodrigues no PS acaba por ser benéfica para a coligação governamental, mas é preciso saber tirar partido dela. Logo no domingo, o primeiro-ministro disse que pretendia tirar ilações da derrota. Pois bem, pode começar por fazer uma remodelação governamental, reforçando o Governo com mais políticos. Suponho que esta remodelação já estava prevista, mas em lugar de ser “empurrada pela Oposição”, vai ser uma resposta à vontade dos eleitores, o que é mais populista. Além disso, com o mandato a meio chegou a altura de suavizar as grandes reformas e começar a abrir os cordões à bolsa para que o eleitorado se esqueça das águas passadas.

Mas isto não basta. É fácil perceber que a coligação está a prejudicar tanto o PSD como o PP. Há gente do centro-esquerda que não vota PSD por este partido estar coligado com a direita do PP. Há gente de direita que não gosta do PSD e vota PND ou, simplesmente, não vota. Dificilmente o PSD terá a coragem de abandonar o PP, por isso terão de ser os populares a perceber duas coisas simples: por um lado estão a facilitar o desgaste da Coligação a ponto da vitória nas próximas eleições poder estar em causa; por outro lado, o PP está a perder a sua identidade e, tal como na época pós-AD, tende a diluir-se no PSD ou a engrossar o PND. Se o PP quer sobreviver, então está na hora de voltar a caminhar sozinho.

Na esquerda mais extremista, o PCP continua a descer na mesma proporção em que o Bloco de Esquerda sobe. Os comunistas podem estancar a sangria mudando de rumo do partido ou podem assistir impavidamente ao seu esvaziamento.

Os dados estão lançados. Depois do período de férias veremos as verdadeiras reacções dos partidos a estas eleições.

Por: João Canavilhas

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