A origem do défice (I). Há cerca de um mês Durão Barroso anunciou ao país com pompa e circunstância a criação de uma universidade tecnológica em Viseu que deverá arrancar no próximo ano lectivo. Esta decisão é imoral: Numa altura em que se que se pretende reestruturar todo o ensino superior, com uma clara diferenciação de missões para os dois subsistemas e a sua articulação, levando provavelmente essa reestruturação a reduções de cursos e redimensionamento de instituições, o governo decide, sem qualquer justificação racional, desperdiçar dinheiro e recursos em mais uma universidade pública.
Por cá, os nossos políticos desvalorizaram completamente o assunto. A Guarda «não perde absolutamente nada», dizem eles (O Interior, 20/05/04). Álvaro Guerreiro, presidente em exercício da câmara, prefere apontar o dedo aos deputados eleitos pelo distrito «para saber o que fizeram para que a Guarda tivesse uma universidade» em vez de se lamentar ou reclamar uma instituição do género «só porque o vizinho do lado já tem». Em contrapartida, garante, o município tem «uma posição articulada e estratégica» no ensino superior nacional. Prova disso é (adivinhem lá) o facto do executivo guardense ter aprovado há cerca de um ano uma moção que reclama por uma universidade na Guarda – palavra de honra! E porquê esse desiderato? Muito simples: os vizinhos do lado também reclamam, nomeadamente Bragança e Viseu, e, devido à tal «posição articulada e estratégica», a Guarda não se pode calar. A mensagem do presidente em exercício é clara: no que toca a pedinchar e a exigir extravagâncias ao poder central ninguém nos dá lições, nem o inefável Carlos Pinto, da Covilhã, que delira com casinos, aeroportos e cidades levantadas de raiz – uma mini Las Vegas portuguesa? A diferença é que os gritos de revolta e indignação do senhor Álvaro Guerreiro e companhia não se ouvem no Terreiro do Paço, ou melhor, não se ouvem sequer dentro da Guarda. Neste caso, ainda bem. Há males que vêm por bem.
Por seu lado, Ana Manso lamenta imenso a falta de estratégia e de visão de longo prazo do executivo guardense, ao contrário de Viseu, que revela uma «forte liderança e estratégia». Mais: considera que só temos a ganhar com a escolha de Viseu porque a anunciada universidade tecnológica vai «reforçar o interior». Reparem, a senhora já não pensa só em termos locais. Não senhor. A sua potente «visão estratégica» alcança já todo o interior do país. Dirá o leitor mais atento que há uma contradição neste discurso. Só aparentemente. É que há duas Anas Mansos. Por um lado, enquanto líder da distrital e presuntiva candidata à câmara da Guarda, defende, supostamente, os interesses da sua terra. Por outro lado, enquanto vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, defende as mais absurdas decisões do governo. Não admira que, por vezes, a senhora pareça desorientada de todo.
A origem do défice (II). Num excelente artigo, Rui Isidro demonstrou, uma vez mais, o fiasco do Polis-Guarda, o que resulta em grande parte do facto de nunca ter havido uma visão global da cidade mas apenas intervenções pontuais e desgarradas – a este propósito, basta lembrar que a Guarda nunca teve um Plano de Urbanização. Mas o director executivo, o arquitecto António Saraiva, não desiste. Com o prazo a esgotar-se e as obras por arrancar, fez uma nova proposta ao governo. A ideia é muito simples: concretizar todas as obras, mas com um corte de 15% nos custos (passam de 37 para 31 milhões de euros). Haverá cortes significativos na gestão, comunicação, merchandising e nos materiais.
Por mim, uma pergunta: só agora é que descobriram que podiam poupar seis milhões de euros sem prejudicar o projecto? Muito interessante, sim senhor.
Por: José Carlos Alexandre