As piores expectativas para o Centro de Alcoólicos Recuperados da Cova da Beira confirmaram-se na passada semana. O CAR, que luta há quatro anos para obter o estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), encerrou definitivamente as portas devido à grave crise financeira que atravessa. «Esta é a triste notícia do que já prevíamos há muito tempo», referiu em conferência de imprensa o presidente da associação, José Manuel Amarelo, face a dívidas superiores a 15 mil euros que levaram ao corte dos serviços de água, luz e telefone na sede há mais de três meses.
Parada desde então está também a carrinha que faz essencialmente o transporte dos doentes para a Unidade de Tratamento de Alcoologia do Hospital do Fundão por falta de dinheiro para o gasóleo. «Fartámo-nos de ser mendigos e pedintes. Não temos direitos e as ajudas não chegam», lamentou José Amarelo, que irá propor numa Assembleia Geral a realizar «em breve» a extinção do Centro que já tratou até ao momento 738 doentes e que possui actualmente 519 em recuperação, mais 500 pedidos de ajuda. Em causa está a ausência de um protocolo que garante 2.500 euros da Segurança Social e do protocolo mensal de 1.500 euros com a Câmara da Covilhã, prometido durante as últimas eleições autárquicas, que permitiria ao CAR da Cova da Beira suportar as despesas correntes. O protocolo com a Câmara seria mesmo «o nosso balãozinho de oxigénio. Mas passados dois anos, dizem que desconhecem esse protocolo que me foi prometido pessoalmente», critica José Amarelo, lamentando que as eleições sejam apenas dentro de dois anos. Já com a Segurança Social a situação também não melhora. Inscrita como IPSS na área da saúde, há quatro anos que o CAR tem enviado documentação para a Direcção-Geral da Segurança Social para serem inseridos na área social face ao trabalho de apoio e reinserção social, como a ajuda em alimentação, vestuário, mobiliário e medicação.
«Temos mostrado trabalho ao longo destes anos e não compreendemos porque é que continuam a pedir-nos documentos», estranha José Amarelo, que confessa estar «cansado e destroçado» por lutar pela sobrevivência de um centro cujos custos têm sido suportados essencialmente por elementos do CAR Cova da Beira e por apoios casuais de algumas empresas, autarquias e outros privados. «Não podemos ser voluntários e pagar do nosso bolso», frisa, referindo-se ainda às diversas actividades que foram realizadas pelo CAR da Cova da Beira para angariar fundos. Sem um apoio mensal que possibilite manter a sede em funcionamento, «não há hipótese de continuar», lamenta, principalmente por saber que irá haver «certamente» recaídas. Recorde-se que as dificuldades de sobrevivência têm ecoado na região há algum tempo e já levaram a vice-presidente da associação a fazer três greves de fome como forma de luta para que o centro não fechasse as portas. A última aconteceu há cerca de três semanas atrás, mas nem assim foi possível evitar o fecho do centro que trata alcoólicos da Covilhã, Fundão, Belmonte, Castelo Branco e Penamacor, para além de outras localidades do país e do estrangeiro. “O Interior” tentou falar com o presidente da Câmara da Covilhã, mas tal não foi possível até ao fecho desta edição.
Liliana Correia