A história é um percurso de traçado variável e pouco previsível de acontecimentos que se sucedem vertiginosamente e em que o futuro só é conhecido quando já é passado.
Tudo evoluiu sem precedentes e não podem comparar-se hoje os meios e responsabilidades novas das instituições que, por tradição, organizam as identidades, que nascem plurais e que por razões de circunstância social, política e económica convergem para uma articulação que responde ao globalismo imperativo e desafiante.
Não é só no domínio da ciência e da investigação do saber que o envolvimento das áreas partiu da interdisciplina em busca da transdisciplina, também as formas e os conceitos estratégicos de governo sofrem uma profunda desatualização de formas e conceitos que tinham levado séculos a estabelecer e agora são apenas um episódio no percurso para o regionalismo interestadual, como se passa no projeto europeu, evoluindo para uma profunda interdependência que atingem os conceitos clássicos de soberania e de fronteira geográfica.
A estereotipada divisão entre esquerda e direita, tornada obsoleta pelo novo paradigma de um projeto comum de governação europeia, coloca na fronteira dos interesses políticos os limites das funções económicas, orçamentais, de segurança e defesa interligadas. A dívida e o défice, a balança comercial, o crescimento do PIB, o combate ao desemprego, o apoio às exportações, no fundo, políticas de estabilidade e crescimento de um modelo económico de capitalismo.
Neste percurso comum não há margem para repetir os erros de um passado recente como sublinhou o primeiro-ministro, mas apenas um caminho de convergência europeia onde não cabe nem o discurso nem a prática ideológica clássica.
Independentemente da origem ideológica daqueles que, pela obra do tempo, vão somando responsabilidades, não há alternativa ao modelo de desenvolvimento europeu de capitalismo social que o caracteriza. Não deixa de ser irónico que este modelo esteja a ser apoiado em convergência política por forças ideológicas de inspiração marxista que o percurso histórico vem derrotando.
Descobrir novos caminhos num mundo onde nada está acabado, como ensina Popper, parece ser uma atitude sábia. É a olhar para o futuro, transformando a experiência em saber, a evolução em memória, a exigência em estímulo, que construímos o presente que em breve será passado como saberemos no futuro.
Aqueles que ficam apenas agarrados à memória, resistindo à mudança, não participando na ação, ficarão apenas ligados a uma retórica da palavra, descontextualizados do tempo que passa.
Por: Júlio Sarmento
* Ex-líder da Distrital do PSD da Guarde e antigo presidente da Câmara de Trancoso