Referindo-se a Sousa Franco, Ana Manso terá dito o seguinte: “À frente da lista do PS temos um homem sem categoria. E não é por lhe faltar alguma coisa em termos físicos”. Depois disto, veio esclarecer que com “homem sem categoria” queria dizer que Sousa Franco não tem coerência política e deu a entender, embora não comentasse a frase, que a referência à deficiência física dele era um produto de “entusiasmos na campanha”, sem os quais a “campanha estaria perdida”.
Ficamos a entender para já duas coisas: que Ana Manso não assume aquilo que efectivamente diz, o que a torna culpada de incoerência; que a campanha do PSD depende, para se não perder, dos insultuosos entusiasmos dos seus candidatos. Acabei de produzir uma falácia, tomando a parte (este particular entusiasmo) pelo todo (todos os entusiasmos da campanha)? É verdade, mas esta é uma falácia bem mais benigna do que a produzida por Ana Manso, que ataca o homem sem rebater as suas ideias e que o ataca nas suas deficiências físicas, aquelas de que ele é menos culpado, que menos pode controlar. Os excessos de linguagem, esses, são controláveis e têm remédio, por exemplo com o pedido de desculpas que no caso não houve.
Ainda quanto a coerência política, recordo-lhe a de, por exemplo, Durão Barroso, que começou no MRPP e está hoje no PSD. Ou que nos prometeu baixar os impostos e depois os subiu. Será ele mais um homem sem categoria, ou será, desculpem-me o entusiasmo, que lhe falta também “alguma coisa em termos físicos”?
O que me indigna não é tanto agora a cobardia, a falta de classe, de civilização deste insulto em particular. Afinal todos nós assistimos, desde a escola primária, à generalizada perseguição aos que eram diferentes, aos que tinham um defeito, uma particularidade que pudesse servir de pretexto à risota, que justificasse aquele dedo mesquinho e cruel apontado para o mais vulnerável da classe.
O problema é também que Ana Manso não é mais aluna da primária e não é uma cidadã qualquer. É deputada na Assembleia da República, eleita pelo círculo da Guarda, candidata a um lugar no Parlamento Europeu e foi candidata ao lugar de presidente da Câmara Municipal da Guarda. Aquilo que disse, para além de nos envergonhar a todos, cidadãos da Guarda, revelou a sua verdadeira personalidade e essa revelação, lamento constatá-lo, tornam-na totalmente inadequada a exercer qualquer um daqueles cargos.
Por: António Ferreira