«Não tem sentido estarmos a preparar em termos educativos as novas gerações da mesma forma como fomos educados há 20/40 anos atrás». A afirmação do ministro da Educação, David Justino, não é de agora mas representa a filosofia que o ministério quer introduzir no sector nos próximos anos. Uma ideia que ficou bem patente durante a inauguração do complexo escolar da Mêda no ano passado, à margem da qual o governante explicou o que vai mudar. «Concentrar» para proporcionar melhores condições de ensino aos alunos é a palavra de ordem da intervenção no 1.º ciclo do ensino básico.
«O sucesso escolar das novas gerações constrói-se logo a partir do pré-escolar e do 1.º ciclo, onde estamos a dar uma atenção muito especial para proporcionar bibliotecas, refeitórios e bons transportes escolares para que tudo isso possa convergir numa maior qualidade de ensino», disse David Justino, para quem concentrar vai tornar «mais fácil» essa intervenção. «O que interessa é que os miúdos possam ter as condições, os materiais didácticos, computadores, biblioteca, refeitório, actividade física, tudo no mesmo sítio, e, acima de tudo, possam ter amigos, que é uma coisa fundamental nesta fase», defende o ministro. Nesse sentido, desde o ano passado que o Governo tem em marcha o programa especial de reordenamento da rede escolar que implica o fecho de todas as escolas com menos de 10 alunos até 2007. No caso do distrito da Guarda, essa medida vai afectar cerca de 70 por cento das primárias, segundo uma estimativa do Centro da Área Educativa (CAE) à luz das conclusões de um estudo do Ministério da Educação. Os dados referidos no programa de qualificação do 1º ciclo do ensino básico revelaram que no ano lectivo 2002/2003 existiam 682 escolas com menos de cinco alunos, 1.323 tinha entre cinco e 10 alunos e 6.077 dez e mais alunos.No ano passado encerraram 312 estabelecimentos de ensino do 1.º ciclo, 14 dos quais no distrito da Guarda.
Este será mesmo um dos mais atingidos pelo programa especial de reordenamento da rede escolar, já que quatro dos concelhos que o compõem estão instalados na primeira fila daquele estudo. Almeida lidera mesmo a lista com 61,9 por cento das escolas a receberem menos de 6 alunos, Pinhel ocupa a terceira posição (60,6 por cento), logo seguido de Mêda e Figueira de Castelo Rodrigo (entre 60 a 50 por cento). Nesta hierarquia funesta há ainda lugar para o Sabugal e a Guarda, em posições mais distantes mas mesmo assim preocupantes. A rarefacção demográfica, o envelhecimento da população, as fracas acessibilidades e a predominância de actividades de rendimento incerto, são alguns dos factores apontados pelo Ministério da Educação para explicar esta realidade que afecta principalmente os concelhos com um carácter eminentemente rural, em especial nas regiões do Baixo Alentejo, interior da região Centro e grande parte do Nordeste continental. Ou seja, grande parte do território nacional onde ainda subsiste uma elevada percentagem de pequenas escolas, agora destinadas a desaparecer em duas fases já anunciadas. Até Setembro deste ano serão encerradas todas as escolas com menos de cinco alunos, devendo fechar até 2007 aquelas que têm menos de dez alunos.
