O INTERIOR inicia nesta edição uma análise aos dados demográficos dos 17 municípios que integram a Comunidade Intermunicipal Beiras e Serra da Estrela. Os primeiros concelhos abordados são Figueira de Castelo Rodrigo, Mêda e Vila Nova de Foz Côa.
Com base na informação disponível no Instituto Nacional de Estatística (INE), é possível fazer um retrato da evolução populacional de cada concelho desde 1900 no século passado – os dados anteriores apenas dizem respeito à população dos distritos – até 2015. No quadro publicado nesta página confirma-se que o fenómeno do despovoamento é recente e que já houve um tempo em que os habitantes eram quase o dobro dos atuais em diferentes concelhos, que estão hoje seriamente ameaçados. No caso de Figueira de Castelo Rodrigo, Mêda e Vila Nova de Foz Côa constata-se que no início do século passado o número de residentes, em cada um destes municípios, rondava os 15 mil. A partir de 1911 assiste-se a uma descida moderada e compensada com pequenas subidas até 1960.
Uma década depois regista-se uma redução acentuada de população que é justificada pela emigração, que “sangrou” estes municípios em termos de residentes. Nesse período, a população média em Figueira, Mêda e Foz Côa rondava as 9.400 pessoas. Nos Censos de 1981, os primeiros no pós-25 de Abril, está patente o fenómeno dos “retornados” das ex-colónias, mas a esperança é pouco duradoura, uma vez que a partir daí a demografia destes concelhos voltou a cair, tendo mantido essa tendência até 2015, quando a população média destes três concelhos era de cerca de 5.800 habitantes.
«A situação é preocupante», confessa Paulo Langrouva. Para o presidente da Câmara de Figueira de Castelo Rodrigo o problema do despovoamento persiste apesar dos esforços para o reverter «com medidas de incentivo à natalidade e à fixação de jovens». Criar empresas no interior que potenciem o emprego sustentável e descentralizar serviços públicos a nível nacional são duas das medidas apontadas pelo autarca para reverter esta situação. Paulo Langrouva recorda os problemas da interioridade estão identificados, «o que é preciso é avançar com políticas de incentivo à fixação de jovens, através de medidas fiscais e, por exemplo, de aulas de empreendedorismo na escola».
Já o edil de Vila Nova de Foz Côa olha para o problema com «um otimismo moderado». Gustavo Duarte admite que o futuro «é complicado, mas eu acredito que é possível, através de certas políticas, reverter a tendência da desertificação». Quando questionado sobre o que pode ser feito para combater este dilema, o autarca responde que o concelho «tem algumas potencialidades», nomeadamente o turismo, e «produtos de excelência, como o vinho, a amêndoa e o azeite» que devem ser valorizados. «É preciso pegarmos nos produtos e naqueles setores estratégicos de cada concelho, explorá-los e tirar partido deles», justifica. Para Gustavo Duarte é também importante que haja uma «conjugação de esforços entre o poder local e o poder central». Este é um ponto defendido pelos três autarcas ouvidos por O INTERIOR, que consideram as políticas locais insuficientes para lutar contra um problema desta dimensão.
«A continuar assim, a maior parte das aldeias, daqui a 10/15 anos, ficará completamente desertificada», antecipa Anselmo Sousa. O presidente do município de Mêda considera que «combater essa desertificação não depende só das políticas locais, é necessário que o poder central olhe para esta questão de outra maneira». Apoiar as pequenas empresas e os jovens, bem como incentivar a criação de negócios no interior e valorizar produtos de excelência do concelho são os pontos defendidos por Anselmo Sousa para fixar a população mais jovem e com isso combater a desertificação que está a ameaçar a sobrevivência de muitos municípios da região.
Sara Guterres