Às 10h49 do primeiro dia de 2017, a maternidade do Hospital Sousa Martins viu nascer Maria Clara, a primeira bebé do ano na Guarda. A menina veio ao mundo, de cesariana, com 2,700 quilos e é primeira filha de um casal de Fornos de Algodres.
Com o sorriso estampado na cara, a mãe, de 29 anos, confessa que não esperava que a filha fosse a bebé do ano: «Não estava à espera. Tanto que lhe andei sempre a pedir para não nascer na passagem de ano e ela fez-me a vontade. Deixou-me passar a meia-noite em casa, só às sete da manhã é que se lembrou que queria sair», conta Telma Cabral. Maria Clara também surpreendeu os pais, que contavam com «um Miguel» até ao quinto mês de gestação. «Os médicos diziam que era um menino, só aos cinco meses é que viram que afinal era a Maria Clara», revelam. Apesar de ter serviços hospitalares mais próximos do seu concelho, em Viseu, a mãe da recém-nascida disse ter escolhido a maternidade do Sousa Martins para ser «tratada humanamente e não ser só mais um número». Telma Cabral, que trabalha como operadora de supermercado e cujo marido, de 37 anos, é motorista de pesados, não deixou de referir que «hoje as pessoas vão tendo filhos consoante as suas posses».
Ao ato de ter uma criança vem atrelado o aumento significativo de despesas. De acordo com os resultados provisórios do Inquérito às Despesas das Famílias (IDEF) 2015/2016, divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a despesa média anual dos agregados familiares com crianças dependentes é de 25.892 euros. Ou seja, mais 44 por cento que nas famílias sem crianças dependentes (17.997 euros), o que corresponde a uma diferença mensal de 658 euros. Talvez por isso Portugal seja um dos países da União Europeia com menor taxa de natalidade. No entanto, esta tendência dos últimos anos foi contrariada em 2016, já que o número de nascimentos subiu inesperadamente. Entre 1 de janeiro e 28 de dezembro nasceram 82.381 bebés em Portugal, mais 1.147 do que no ano anterior. No caso da maternidade da Guarda também houve um acréscimo do número de partos e, consequentemente, de nascimentos. Foram 578 partos, de acordo com o diretor do serviço de Pediatria.
Traduzida em nascimentos, esta subida corresponde a 584 bebés, ou seja, um aumento da ordem dos cinco por cento em relação a 2015. António Mendes sublinha que a ULS tem batalhado no sentido de atrair o maior número possível de grávidas para a sua maternidade: «Com a nossa ida aos vários centros de saúde, com a nossa descentralização em termos de aulas de preparação para o parto e maternidade, estamos a captar mais grávidas para esta instituição e julgamos que ao continuar com esta política o número vai ter tendência a aumentar», acredita o médico. Também o presidente do Conselho de Administração (CA) da ULS, que compareceu na entrega de um presente simbólico à bebé do ano, confia que «o melhoramento das instalações do Departamento de Saúde da Criança e da Mulher vai atrair mais mães para a maternidade da Guarda». Para Carlos Rodrigues, «quando as mães nos procuram para o nascimento dos seus filhos sentimo-nos compensados, é um sinal de segurança e qualidade».
Contudo, à redução da taxa de natalidade, haverá também que juntar outro fator, pois Portugal continua a ser um país onde as mulheres optam por ser mães mais tarde. De acordo com o estudo “Determinantes da Fecundidade”, desenvolvido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e publicado em maio de 2016, as mulheres têm o primeiro filho, em média, aos 30 anos, ou seja, cinco anos depois que na década de 90 do século passado.
Sara Guterres