«Quero que a Guarda esteja no radar do investimento público e privado, não só das festas e das festinhas». Foi assim que Matias Coelho comentou na última Assembleia Municipal o facto do novo serviço de Radioterapia ir para Viseu em detrimento da cidade mais alta para servir toda a Beira Interior.
O deputado socialista foi o único a abordar o assunto na sessão de sexta-feira e criticou a decisão do Governo: «Sinto tristeza e revolta porque foi uma decisão política e não técnica, uma vez que a maior parte do distrito de Viseu está a menos de uma hora de Coimbra», disse Matias Coelho, para quem, «mais uma vez, a Guarda ficou esquecida». Irónico, o médico disse querer saber «como é que o secretário de Estado» vai colocar em Viseu, «dentro de uma hora», os doentes de municípios como Penamacor, Vila Velha de Ródão, Sabugal ou Almeida. «Este Governo tem intenção de descentralizar, mas no que toca a esta questão da saúde já começou mal», lamentou o deputado, sublinhando que a Guarda «não pode aceitar uma coisa destas».
No entanto, Matias Coelho constatou que as entidades que tinham que exigir aquele serviço não o fizeram, referindo-se à autarquia, à ULS e aos deputados eleitos pelo distrito. «Só a Assembleia Municipal defendeu a Radioterapia na Guarda quando aprovou uma moção por unanimidade na sessão de abril deste ano», constatou o socialista. Na resposta, o presidente da Câmara afirmou não estar «ainda bem seguro da decisão do Governo» e não assumiu uma posição sobre o caso. Álvaro Amaro disse apenas que quer conhecer «a justificação do Ministério da Saúde para a unidade de Radioterapia ficar em Viseu» para depois tomar uma posição. Na sexta-feira, os deputados aprovaram por unanimidade uma moção da CDU em defesa dos enfermeiros com vínculos precários na Unidade Local de Saúde da Guarda. O documento exige do Governo «medidas urgentes na agilização atempada e sustentada dos procedimentos administrativos» para resolver a situação destes profissionais.
Unanimidade mereceram ainda três moções do PS, CDU e Bloco de Esquerda sobre os 40 anos do Poder Local. Já a deputada Elsa Silva (CDS) voltou a alertar para o possível encerramento do Centro Educativo do Mondego. «A ministra da Justiça disse no Parlamento, no passado dia 16 de novembro, que a Direção-Geral da Reinserção e dos Serviços Prisionais propõe o fecho do Colégio do Mondego e a transferência dos jovens para o Centro de Vila do Conde, que está encerrado desde 2014», afirmou a centrista, que pediu esclarecimentos ao PS. O socialista António Monteirinho respondeu para dizer que o que está a ser feito é «um estudo para reformular» o Centro Educativo do Mondego e «nada mais». Da bancada do PS veio também a oferta de ajuda ao executivo no caso da Tesla e da construção dos passadiços do Mondego e da despoluição dos rios Noeme e Diz. «São projetos que podem alavancar o desenvolvimento económico do concelho e a Câmara contará sempre com o PS nestes e noutros projetos estruturantes e para aquilo que for necessário para trabalhar pela instalação da fábrica da Tesla», declarou João Pedro Borges.
Orçamento aprovado por maioria
Sem surpresas, o Plano e Orçamento de 36,8 milhões de euros da Câmara da Guarda para 2017 foi aprovado por maioria, com 50 votos a favor, 14 contra (dois do BE e 12 do PS) e seis abstenções (duas da CDU e quatro do PS).
O socialista António Monteirinho disse tratar-se de um orçamento «eleitoralista» a pensar nas autárquicas. Segundo o deputado, «não há uma aposta na área social, como tem sido transmitido pelo senhor presidente da câmara» e os projetos apresentados «são investimentos limitados no tempo» quando são necessários «investimentos prolongados no prazo». Por sua vez, Pedro Nobre (PSD), que apresentou vários gráficos sobre o desempenho da gestão do município, concluiu que «as contas estão agora bem melhores [que nos mandatos anteriores liderados pelo PS], a Câmara paga a tempo e horas e há capacidade financeira para fazer obra». Para Bruno Andrade (BE), o orçamento para 2017 é «mais do mesmo», tendo destacado a previsão do aumento de «mais de um milhão de euros» da receita com impostos e taxas municipais.
Já Carlos Canhoto (CDU) assinalou que, no próximo ano, a Câmara «perpetua a necessidade de subcontratar quando tem a capacidade e recursos humanos para fazer esses serviços». O deputado alertou também para o «excessivo» recurso aos ajustes diretos, procedimento que têm «valores altos e que frequentemente estão no limite legal». Na resposta, Álvaro Amaro considerou que o orçamento «espelha bem uma opção estratégica para captar investimento e pessoas». O presidente refutou as críticas dos socialistas dizendo que o PS «está preocupado porque este orçamento tão realista que não encontraram nada que não batesse certo». O edil acrescentou que o seu executivo é «recordista das receitas cobradas» e não adepto da «política do favorecimento».
Luis Martins