Tenho acompanhado, através da versão electrónica d’ “O Interior”, o desenrolar dos acontecimentos antidesportivos de que Linhares da Beira, o primeiro local de voo de parapentes em Portugal, tem sido palco. (…) Acontece, como noticiou este jornal, que de um momento para o outro os proprietários do terreno onde se aterra deixaram de apoiar o voo livre (“livre” designa ausência de motor, pois as asas de parapente e as asas delta, que não têm casco nem trem de aterragem, só carecem da corrida do piloto para descolarem das vertentes da Serra) e decidiram cobrar a utilização do terreno por cada aterragem. Alegaram incumprimento do INATEL e das autarquias. Ora esse terreno é fundamental para a grande maioria dos pilotos, por ser grande e seguro, e imprescindível para as escolas que ali iam dar aulas práticas, com dezenas de alunos a aterrarem intensivamente nos dias de bom tempo. Como é óbvio, e com tantos terrenos livres por essa Serra fora, não foi difícil – designadamente às escolas – encontrar proprietários ou autarquias com mais vontade de ali ver o singelo e silencioso voo das nossas asas. Um cenário que me suscita diversas questões: o que fazem os responsáveis em defesa do desporto e do turismo em Linhares? Será que, pela ausência, pela omissão, querem deixar morrer o parapente em Linhares? Já contactaram os instrutores que podem assegurar a viabilidade duma escola local, com apoios e informação aos pilotos? 2004 vai ser o primeiro ano sem competição?
Posso garantir que as condições de voo em Linhares continuam óptimas: já lá voei depois da Páscoa, mas completamente sozinho. Se não estivesse sozinho poderia ter ido aterrar à Guarda ou a Belmonte e também poderia ter evitado percorrer o péssimo caminho de acesso à descolagem com um carro que não foi concebido para maus caminhos. Lamento ter de escrever a “O Interior” porque deixei de enviar cartas à Câmara de Celorico ou à Junta de Linhares: não me são respondidas!
António Aguiar, piloto de parapente (Lisboa)