Por vezes, dizer que certo filme é mau, dito só assim, não chega para descrever, ou passar aos outros, o quanto mau ele realmente é. Anda por aí um filme desses. Com Brad Pitt, Eric Bana e Orlando Bloom nos principais papéis, em registos qualitativos idênticos: fracos, para não ir mais longe. Afinal vou mesmo e não consigo deixar de dizer que o Robocop tem um leque de expressões muito mais vasto (e interessante) que a destes actores no filme em questão, que só quem ainda o não viu é que não descobriu de que filme falo. Só mesmo Sean Bean se safa, que depois da sua presença em «Senhor dos Anéis», assina mais um trabalho que nos faz estar atento ao seu futuro.
Quando um filme é mau, uma seca, verdadeira tormenta para aguentar encafuado em, tantas das vezes, apertadas cadeiras duma qualquer sala escura, há sempre a esperança que este tenha a duração formatada de 90 minutos. Neste caso isso não acontece. (Prometo dizer ainda neste parágrafo o nome do filme). Depois do interessante «Tempestade», Wofgang Petersen vê-se em mãos com milhões e milhões de dólares (o cinema português, desde o seu primeiro filme até aos dias de hoje, ainda não deve ter gasto tanto dinheiro), meses e meses de rodagem pela frente, e um clássico da literatura que todos conhecem. Um clássico que é como quem diz, ao de leve lá se vão fazendo referências ao livro, mas muito ao de leve. Quem, no final de «Tróia», quase três horas depois, se lembrar quem era Ulisses, merece uma prenda.
Diálogos mecânicos e soluções narrativas do mais básico, num registo entre «Gladiador» e «Senhor dos Anéis», é até possível imaginar que, se Ridley Scott e Peter Jackson estiverem interessados em ganhar mais uns milhões de dólares será possível acusar «Tróia» de plágio. O caso está ganho desde logo. Sem margens para qualquer dúvida.
O final é outro problema. Já toda a gente sabe com tudo isto vai terminar. Quem nunca ouviu falar do oco cavalo troiano? Ou do famoso calcanhar de Aquiles? Se o que tivesse ficado para trás fosse bom até nem se repararia neste pormenor, mas assim, a frustração não tem limites.
Muita fé
Enquanto seis milhões de portugueses ainda festejam a vitória da Taça de Portugal, e o Euro se prepara para começar, só já restam os rastos de uma passagem fugaz da nova sabotagem/manipulação, em vídeo, de Edgar Pêra, esse grande terrorista visual e sonoro.
Sempre atento aos pormenores, Pêra oferece em «És a Nossa Fé», a melhor comédia nacional do ano. Documentário sobre a paixão do futebol, feito por alguém que nem de futebol gosta, e desconfia-se que nem dele perceba algo, passa por aqui, virgem e imaculada, uma visão a que não estamos habituados desse desporto que tudo domina no nosso país.
A fazer lembrar um qualquer programa do National Geographic, é como se Edgar Pêra tivesse decidido, depois de «Janela», fazer um «Bancada». As taras do realizador continuam bem visíveis e audíveis. Iguais ao de sempre. Se nem todos ficarão agradados com a ideia, não serão poucos aqueles a quem lhes nasça um sorriso com a perspectiva de regressar a um universo único, pessoal e, pelo que se vê, pouco transmissível.
Com uma passagem relâmpago pelas salas de cinema, prova talvez da pouca fé do público perante propostas alternativas, Edgar Pêra continua a sua travessia pelo deserto, na companhia de uma imensa minoria. Alguém se quer juntar?
Por: Hugo Sousa
cinecorta@hotmail.com
