A partir de 2006, os ventos da Gardunha vão ter capacidade para produzir energia com uma potência de 118 MW, igualando assim os níveis de energia consumidos pelas populações dos concelhos do Fundão e de Castelo Branco, onde, numa primeira fase, estará implementado o projecto.
Esta é pelo menos a pretensão da Generg – empresa promotora do aproveitamento eólico na Serra da Gardunha – que apresentou no último domingo, na Eira dos Três Termos (local que estabelece o limite entre aqueles dois concelhos) o projecto a desenvolver nos próximos dois anos e que proporcionará às autarquias e aos empresários envolvidos contrapartidas financeiras na ordem dos dois milhões de euros.
O empreendimento, orçado em 125 milhões de euros, prevê a instalação de 64 a 80 aerogeradores (número dependente da potência) com 45 metros de altura em três sub parques eólicos que serão construídos na zona do Cabeço Alto, Maúnça e Zibreiro-Moeda, bem como a instalação de uma linha de alta tensão de 150 KV ligada à Rede Eléctrica Nacional, beneficiando assim as freguesias albicastrenses de S. Vicente da Beira e Almaceda e, na parte do concelho do Fundão, as freguesias da Barroca, Castelejo, Souto da Casa, Bogas de Cima e Bogas de Baixo.
Para João Bartolo, presidente da comissão executiva da Generg, este é um projecto de «enorme relevância no panorama nacional das energias renováveis», tendo em conta que em Portugal estão instalados cerca de 140 MW de energia eólica e só este empreendimento representa a instalação de 118 MW de potência. Além disso, prevê-se ainda a produção de cerca de 283 GWh de «electricidade limpa» obtida através dos «recursos endógenos» da região, contribuindo assim para a diversificação das fontes energéticas, para a redução da importação das matérias-primas e para as metas previstas na Directiva Comunitária das Energias Renováveis e no Protocolo de Quioto. Isto porque o empreendimento em causa permite evitar o consumo anual de 95 mil toneladas de fuelóleo e a redução de 163 mil toneladas de dióxido de carbono, reduzindo assim a emissão de gases poluentes para a atmosfera.
As contrapartidas financeiras
O empreendimento vai ainda beneficiar financeiramente as autarquias de Castelo Branco e do Fundão em cerca de 500 mil euros anuais. A maior parte dessa verba, cerca de 330 mil euros, será canalizada para o município fundanense. Já os 600 proprietários rurais dos terrenos onde será implantado o projecto, receberão rendas anuais estimadas em cerca de 220 mil euros, enquanto que as juntas de freguesias envolvidas receberão um financiamento de 1,5 milhões de euros para a concretização de obras de interesse social. Rendas que serão antecipadas pela Generg para que se possam realizar as obras necessárias: «sozinhos e só com os nossos recursos, não podemos levar a cabo este projecto», pediu o autarca Manuel Frexes a João Bártolo, que já assentiu. As verbas destinam-se sobretudo à «melhoria das acessibilidades» aos locais onde serão instalados os sub-parques, já que as vias são ainda em terra batida e de difícil acesso, tal como relembrou Joaquim Morão, presidente da Câmara de Castelo Branco.
O empreendimento prevê a criação de 15 a 20 postos de trabalho na fase de exploração. É que a Generg, empresa privatizada há um ano e que conta com o capital social das Fundações Gulbenkian, Luso-Americana e Oriente, tem em vista a criação de duas empresas no concelho do Fundão, detidas maioritariamente pela Generg. Uma dessas empresas, a “Ventos da Gardunha”, irá se destinar à gestão da actividade dos dois concelhos, cabendo às autarquias uma quota de 10 por cento do capital, enquanto que a outra empresa irá se destinar apenas ao concelho fundanense.
O interesse da Generg pelos ventos da Beira Baixa já não é novo. A empresa é a responsável pela exploração do Parque eólico de Proença-a-Nova, estando neste momento a «desenvolver mais 1,3 MW de energia na parte do Pinhal Interior», onde estão envolvidas as Câmaras de Oleiros, Sertã, Proença-a-Nova e Vila Velha de Ródão. «Vai ser o nosso maior parque», remata o presidente da comissão executiva da Generg.
Fundão e Castelo Branco unidas na preservação da Gardunha
Protocolo de cooperação foi assinado no último domingo
As autarquias do Fundão e de Castelo Branco assinaram no último domingo, na Eira dos Três Termos, um protocolo de colaboração na defesa da Serra da Gardunha, incluída na Rede Natura 2000. O acordo compreende uma candidatura de 1,5 milhões de euros ao Programa Operacional da Região Centro e tem por base a beneficiação e construção de caminhos, aceiros e pontos de água, silvicultura preventiva, sinalização de estruturas de defesa contra incêndios e aquisição de equipamento. Para além da prevenção, o protocolo entre as duas câmaras municipais vai de encontro às exigências de melhores acessibilidades ao local onde será instalado o parque eólico da Serra da Gardunha
Liliana Correia