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Álcool, tabaco e cannabis são as substâncias preferidas dos estudantes do Ensino Superior

Tese de Mestrado do enfermeiro Pedro Renca vem colmatar lacuna do distrito da Guarda nesta área de investigação

Álcool, tabaco e cannabis são as substâncias psicoactivas mais consumidas pelos estudantes do Ensino Superior no distrito da Guarda. Esta conclusão é apresentada no trabalho de investigação, que coincidiu com a Tese de Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, do enfermeiro Pedro Renca, intitulado “Consumo de substâncias psicoactivas em alunos do Ensino Superior do distrito da Guarda e o seu desenvolvimento na autonomia”.

Entre os 225 alunos, oriundos um pouco de todo o país, do primeiro ano das quatro escolas que integram o Instituto Politécnico da Guarda, cerca de 31 por cento reconheceram que consomem substâncias ilícitas, constatou o enfermeiro guardense que se encontra a frequentar o curso de Musicoterapia da Academia de Ciências de Enfermagem, em Coimbra. A amostra recaiu entre os caloiros numa tentativa de «estudar a questão da separação, adaptação, transição e autonomia», adianta. Apesar de serem dados que «não são muito preocupantes», os 31 por cento requerem «algum cuidado», ainda para mais «num distrito do interior e que faz fronteira com Espanha, o que possibilita um acesso mais fácil» das substâncias psicoactivas que «fazem com que haja uma alteração de comportamento do indivíduo, sublinha. Uma das principais conclusões a que o jovem enfermeiro chegou no seu trabalho foi a de que, e «ao contrário do que muita vezes se pensa», os alunos que permanecem em casa dos pais durante o ano lectivo «são aqueles que mais consomem essas substâncias», frisa. O «habitual» é pensar-se que os estudantes deslocados têm mais tendência para o consumo de substâncias ilícitas, mas aquilo que acontece no distrito da Guarda é o oposto, «talvez para “conquistarem” a liberdade que não possuem», indica Pedro Renca. Outra constatação é a de que os indivíduos que «possuem um índice de autonomia inferior», em termos de «independência emocional e económica», também fazem parte do “lote” que mais consomem substâncias psicoactivas. Este consumo está também associado à procura da «desinibição e à fuga aos problemas que, muitas vezes, o jovem adulto enfrenta», diz.

Álcool, tabaco e cannabis são as substâncias mais consumidas, mas também drogas “duras” como a heroína e a cocaína já foram experimentadas entre os alunos que foram alvo do estudo, sendo que «de uma maneira geral, todos os indivíduos já tiveram vários tipos de consumo», sublinha. De resto, a entrada no Ensino Superior é considerada um «marco» na vida estudantil, onde o estudante é confrontado com novas experiências e desafios, constando-se que no período que vai desde o final do 12º e a entrada no Politécnico se registou «um aumento de consumo bastante acentuado», indica. Nesta altura, verifica-se ainda «um aumento excessivo» do consumo de tranquilizantes, sedativos e calmantes «sem receita médica», revela. Pedro Renca é enfermeiro há cerca de três anos e meio no departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital Distrital da Guarda e, ao escolher este tema para investigar, quis contribuir para que o distrito da Guarda «ficasse mais enriquecido nesta área», assegura: «Um dos factores que contribuiu para a escolha deste tema foi o de não existir um trabalho com estas características no distrito e que achei que era muito importante retratar o que se consome, como, quando e a quantidade, até por uma questão de prevenção», realça.

Ricardo Cordeiro

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