A cerca de um mês da campanha vinícola de 2016, a região da Beira Interior deverá registar uma quebra da produção, uma vez que os produtores se deparam com atrasos na maturação das videiras. A principal causa está no aparecimento de doenças nas vinhas, originadas pelas condições climatéricas que se fizeram sentir este ano.
Em termos gerais, o diretor técnico da Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior (CVRBI) aponta para uma diminuição «de 10 a 15 por cento em toda a região», relativamente a 2015. Para Rodolfo Queirós, «o ideal seria chover dois dias durante os próximos tempos, pois ajudaria a termos uma melhor qualidade das uvas». Mais pessimistas, os dirigentes das Adegas Cooperativas da região falam em quebras entre os 20 e 50 por cento. O caso mais crítico será o da Adega do Fundão, que prevê uma quebra de 50 por cento comparativamente a anos normais. «Já houve uma queda em 2015 e este ano espera-se que seja ainda maior», admite Albertino Nunes, presidente da direção, justificando esta diminuição com a chuva que houve este ano e pelas «dificuldades que os proprietários tiveram no acesso aos terrenos devido ao excesso de água». Na Cooperativa Agrícola Beira Serra, em Vila Franca das Naves (Trancoso) espera-se também uma quebra que «pode variar entre os 20 e 25 por cento».
Apesar de ainda ser relativamente cedo para confirmar valores, João Guerra, dirigente da adega, refere que os produtores associados «já têm manifestado que existe menor quantidade de uvas». Também aqui a origem desta quebra está na chuva, que levou ao aparecimento acentuado de oídio e míldio (doenças das plantas causadas por organismos parasitas). No ano passado, o valor de produção rondava os quatro milhões de litros, estando agora em risco de baixar na campanha de 2016. Já em Pinhel a quantidade de vinho para este ano não deverá sofrer grandes alterações, «o valor será idêntico ao do ano passado, rondando os 14 e 15 milhões de litros», adianta o presidente da cooperativa. Segundo Agostinho Monteiro, as vindimas nesta sub-região estão com algum atraso, estando por isso as expetativas ainda «condicionadas». Sobre a qualidade do vinho, o responsável acredita que será «positiva».
Mas estas previsões podem melhorar consoante as condições meteorológicas das próximas semanas, que serão decisivas para a quantidade de vinho que se virá a produzir na Beira Interior. Contactado por O INTERIOR, o presidente da Adega Cooperativa da Covilhã (Castelo Branco) não mencionou quais as expetativas para a campanha deste ano devido à problemática situação financeira que a instituição está a viver. Francisco Soares adianta que o futuro da mesma, bem como o da colheita de 2016, dependem das negociações em curso com a banca, tendentes à aprovação de um plano de viabilização financeira. «No ano passado não houve praticamente campanha e este ano só se a banca a financiar é que poderá haver resultados positivos», afirma. A adega covilhanense debate-se com a falta de crédito e uma dívida de cerca de dois milhões de euros, que se arrasta há vários anos.
Vendas de vinho da Beira Interior cresceram 5,6 por cento em 2015
Em 2015, as vendas de vinhos da Beira Interior cresceram 5,6 por cento relativamente ao ano anterior, revelou recentemente Rodolfo Queirós.
Segundo o enólogo e diretor técnico da CVRBI, «no ano passado foram vendidas cerca de quatro milhões de garrafas, mais 380 mil que em 2014, o que demonstra que os nossos vinhos têm obtido um apreciável prestígio no mercado interno e internacional». Os vinhos estão a ser comercializados para França, Alemanha, Canadá, Estados Unidos da América, Reino Unido, Austrália, Brasil, Angola e Japão, mas também para a China e a Coreia do Sul. A CVRBI abrange as zonas vitivinícolas de Castelo Rodrigo, Pinhel e Cova da Beira, nos distritos de Guarda e Castelo Branco, onde existem 52 produtores, sendo cinco adegas cooperativas.
Patrícia Garrido