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Cegos, espertalhões, artistas e outros que tais

Crónica Política

A Guarda parece cada vez mais encalhada! Senão, vejamos…

Deu recentemente à estampa um documento titulado de “Rede Nacional de Especialidade Hospitalar e de Referenciação de Oftalmologia”! Em resumo, esse documento propõe que o serviço de Oftalmologia da nossa ULS passe a referenciar os seus doentes para a Covilhã, proibindo nomeadamente a aquisição de determinado tipo de equipamento médico mais sofisticado e de certas competências ao hospital da Guarda. No caso da Covilhã não conseguir resolver os problemas desses doentes, eles seriam então enviados para Coimbra, numa lógica tão parecida com a da batata como outras que a Guarda tem plácida e cobardemente acolhido nos últimos anos.

Curiosamente, ou talvez não, esse documento passou praticamente despercebido a toda a gente. Álvaro Amaro, sempre pronto a cavalgar populismos e indignações de conveniência, quedou-se mais mudo do que um defunto. Ao seu homem de mão na ULS, Carlos Rodrigues, mais preocupado em permanecer no cargo e nos “jobs for the boys” do que com os interesses da população, nem um pio se ouviu em defesa das valências da instituição a que preside. Do PS, então, nem uma palavra! A própria Assembleia Municipal da Guarda passou pelo assunto no último dia 30 de junho como cão por vinha vindimada, por sinal o último em que poderia ter-se pronunciado de forma eficaz no âmbito da consulta pública que decorreu pelo período de um mês.

Recordo-me de que já em 2003 um denominado “Programa Nacional de Saúde da Visão” propunha – na prática – o encerramento dos serviços de oftalmologia nos hospitais das capitais de distrito do interior, transferindo capacidades para hospitais como o da Covilhã. Na altura um dos médicos do serviço opôs-se e, apanhando toda a gente de surpresa, adquiriu a expensas suas o equipamento que permitiu o torpedeamento liminar de todo o processo. Hoje, a Guarda produz mais do dobro de consultas e três ou quatro vezes mais cirurgias do que a Covilhã, demonstrando a incompetência das comissões e funcionários do estado que propõem periodicamente este tipo de “arranjinhos” que vão da imbecilidade e da má-fé à hipocrisia e tartufice.

Não vou aqui explicar a relação entre o grupo Mello-Saúde, o seu posicionamento como um dos principais operadores privados de saúde em Espanha, a sua ambição de ter uma faculdade de medicina privada para formar em Portugal os “seus” futuros médicos, e as férteis relações desse grupo económico com gente ligada ao PS e ao PSD nacional e com as PPP’s na Saúde que incluem hospitais em Braga, Amadora-Sintra, Vila Franca de Xira e, pasme-se, Covilhã! Apenas direi que, conhecendo a situação como conheço, até porque sou infelizmente utente regular do serviço de que falamos, as coisas não vão ficar assim. Se os deputados pela Guarda à Assembleia da República não intervierem de forma explícita e expedita para impedirem mais esta tentativa de dar colinho à Covilhã à custa de outra injustiça contra a Guarda, vão mais uma vez ser ultrapassados pela realidade. Querer obrigar doentes de Seia e de Foz Côa a irem à Covilhã antes de seguirem para Viseu ou para Coimbra terá tanto sucesso como a frustrada tentativa de enfraquecer os interesses da Guarda face à menoridade natural da Covilhã à custa da integração, entre 2011 e 2014, de Foz Côa na ULS do Nordeste Transmontano. A realidade impõe-se sempre aos interesses de lóbis ou às negociatas de pacotilha.

O que fica de toda esta história é uma inominável cobardia e cumplicidade da classe política da Guarda em geral, da direita à esquerda, por ignorância ou por vontade, relativamente à não defesa intransigente dos interesses das suas populações. Nem a Guarda merece os políticos que elege, nem estes merecem o povo que não protegem.

Nunca gostei da forma de ser e estar de um tipo como Ronald Reagan mas, penso que foi o próprio que um dia afirmou que a política é a segunda profissão mais antiga do mundo e que, às vezes, se parece muito com a primeira. Eu diria que na Guarda são, há muito, uma e a mesma coisa…

Por: Jorge Noutel

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