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Organização Interna dos Castros

Nos Cantos do Património

Já abordámos nesta coluna a existência de diversos povoados fortificados, castros, na área da Beira Interior, com a descrição dos vestígios arqueológicos. Todavia, muitas dúvidas persistem sobre a sua organização interna, em parte devido à falta de escavações arqueológicas nestes espaços, certamente condicionados pela localização geográfica, dificuldades de acesso, problemas estruturais das muralhas e muros.

Podemos contudo reunir e discutir os dados conhecidos e compará-los com as áreas limítrofes, de forma a compreendermos um pouco melhor como eram estas aldeias com 3 000 anos.

Estes povoados foram apresentando algumas alterações ao longo do I milénio a.C. Assim, no Bronze Final eram rodeados por muralhas, assentando principalmente no topo de elevados esporões. No interior da linha de muralha ficavam as cabanas dos seus habitantes, de planta circular ou oblonga, construídas em madeira, com piso em argila, com lareiras na área central e cobertura em materiais perecíveis. Todos estes materiais desapareceram com o tempo restando o seu negativo no afloramento rochoso, ou seja, os buracos de poste, onde assentavam os postes de madeira. Em alguns casos foram ainda encontrados pequenos muros de pedra, os alicerces.

Relativamente à forma como era organizado o interior destes povoados, os dados continuam a ser escassos para o Bronze Final. Para além das cabanas, certamente haveriam currais para os animais e foram detectados celeiros, pela elevada concentração de moinhos manuais (dados do povoado de S. Julião, Braga). A mesma situação foi identificada no Cabeço do Crasto de S. Romão (Seia) tendo sido identificada uma cabana onde foram detectados diversos pesos de tear feitos a partir de seixo do rio, indiciando que tratar-se-ia de um espaço dedicado à tecelagem. Nesta estação arqueológica foram ainda identificadas outras áreas com funções definidas: metalurgia, armazenagem e moagem. Não obstante, cada cabana reunia diversas funções: preparação e consumo de alimentos, moagem, tecelagem…

Com a II Idade do Ferro (a partir do século IV a.C.) surgem, nos povoados de maiores dimensões, complexos sistemas defensivos (com diversas linhas de muralha), um proto-urbanismo planificado, cabanas com funções distintas, construídas com muros de pedra e pátios lajeados. Estes povoados apresentam arruamentos pavimentados e os espaços organizam-se em núcleos familiares.

Apesar de algumas casas com planta rectangular, há um predomínio das plantas circulares, com cerca de 5m de diâmetro, possuindo um átrio com entrada em cotovelo. No interior a lareira ficava junto à parede e ao centro implantavam o poste que suportava a cobertura. Segundo os dados das escavações arqueológicas, as cabanas eram construídas em locais apropriados, protegidos dos agentes climáticos, aproveitando os afloramentos rochosos.

A localização dos povoados e a sua organização interna eram previamente avaliados, de acordo com as condições naturais de defesa, proximidade de linhas de água e terrenos agrícolas ou pastagens.

Por: Vítor Pereira

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