Em Primeiro lugar, Bom dia a todos. É com muito prazer que participo neste fórum dedicado às relações entre futebol e política. Quero dizer antes de mais que o meu contributo passa essencialmente por acompanhar e reflectir sobre o que à nossa volta se vai passando. Faço-o na qualidade de vulgar cidadão que lê e ouve noticias mas também como profissional ligado à Educação Física e ao Desporto. É certo que não me posso alhear também da minha experiência enquanto treinador de futebol e de dirigente desportivo.
Tentando sintetizar, eu diria que o que se passa ao nível das relações entre Futebol e politica é escandaloso. Embora só agora as pessoas pareçam ter despertado para o assunto, este é um fenómeno que já existe há muito na sociedade portuguesa. Provavelmente até já terá assumido em tempos anteriores maior expressão do que aquela que hoje terá.
Se olharmos com um pouco de atenção para a actualidade verificamos que grandes figuras públicas, desde Presidentes da Câmara, Deputados, Juízes, etc, estão atascados até ao pescoço no mundo do futebol. Uns é provável que o façam por paixão já que o futebol desperta emoções muitas vezes incontroláveis mas não tenho dúvida que muitos outros o façam única e exclusivamente por interesse.
Durante muito tempo o futebol foi visto como uma rampa de lançamento para voos mais altos na política e nos negócios. Hoje as investigações que vêm saindo a público revelam-nos a teia enorme que se vai tecendo nas costas do futebol. Desde sacos azuis a Negócios que muitas vezes passam pela construção civil, pela hotelaria mas também pelos órgãos de comunicação social, já que o interesse mediático do futebol é de grande Dimensão e impacto.
O jornal O Interior publicou há tempos um levantamento exaustivo sobre os clubes da 1ª Divisão Distrital da Guarda e os respectivos orçamentos anuais. A média, estimada por baixo, seria nunca menos de 50 000 Euros ou seja dez mil contos. Ora acontece que estes dados são pulverizados se tivermos em atenção por exemplo o transporte das equipas de futebol, que muitas das vezes são feitas pelos autocarros das autarquias, As despesas com os funcionários e com a manutenção dos campos de futebol que na maior parte dos casos, são municipais. E Mesmo as facturas da água, da luz e do gás muitas vezes também são integralmente suportadas também pelos cofres das autarquias. Qual será efectivamente o custo total de uma equipa de futebol? E se multiplicarmos essas despesas pelos 14 concelhos do Distrito da Guarda?
Um outro assunto que me merece reflexão são as razões profundas que podem levar os políticos a tentar entrar nestes enredados jogos nos bastidores do futebol.
Porque o farão? Será porque o futebol dá votos? Se olharmos para as assistências que se vão registando pelos campos deste distrito vemos que o reduzido número de adeptos não justificaria tanta preocupação?
Quanto a mim tal acontece por uma deformação cultural e desportiva, por muitas vezes se ter uma ideia errada do que é o desporto em geral, de que aliás o futebol faz parte. Há muitas vezes uma vontade de ganhar que tolda a visão correcta das condutas eticamente responsáveis. E do fair-play é feita letra morta.
Vejamos no que à cidade da Guarda diz respeito. Aproximam-se a passos largos os momentos de os partidos políticos indicarem os seus candidatos à câmara. Entretanto começam a desenhar-se os argumentos a utilizar nas campanhas eleitorais. O que dizer sobre o estádio municipal, uma obra onde foram gastas centenas de milhares de contos e que actualmente não cumpre a verdadeira função para que foi feito que é o espectáculo desportivo. Claro que este vai ser um assunto a ser analisado pelos staffs partidários. E se um novo clube se perfilha no horizonte não terá isso nada a ver com os calendários eleitorais?
Seria talvez caso para dizer aquela significativa frase “ não acredito em bruxas, Pêro que las hay las hay.
Por: Fernando Badana