Três meses após a tomada de posse, o Presidente da República é campeão da popularidade em Portugal.
Marcelo vai, Marcelo vem. Marcelo come um gelado aqui, bebe um copo além, assiste ou dá uma aula acolá, senta-se na relva para ver um espetáculo, tira fotografias com crianças, novos e velhos dando a entender que nos próximos anos não haverá habitação neste cantinho à beira mar plantado onde qualquer membro da família não tenha uma fotografia com o Presidente. E ainda bem que assim é. Há até quem lhe chame o Presidente dos afetos.
Recordar-se-ão seguramente da campanha para as presidenciais com ida às cabeleireiras, às agências funerárias, às farmácias, com recurso ao “fait-divers”, ao comentário da coscuvilhice política, ao artigo de cordel onde fomos (quase) levados para essa dita miragem do tal mundo muito cor-de-rosa.
Primeira cavadela do PR saiu minhoca. Amanhã vai ser comemorado o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades. O 10 de Junho. Mas em França, em Paris!!!
A 9 de março, Marcelo, no discurso de tomada de posse, afirmou: «Presidente de todos, sem exceção, e assim será do princípio ao fim do mandato». Dois meses depois (15 de maio) no rebatismo do aeroporto da Portela, Marcelo disse: «É simbólico que seja um governo de esquerda a decidir e um Presidente da República de centro-direita a dar chama a esta homenagem». Um PR de pensamento do centro-direita ainda vá que não vá. Agora um PR de centro-direita!!! C’os diabos. Então não era suposto ser de todos os portugueses?
Marcelo elogiado nos vários congressos partidários até agora realizados diz que jamais será fator de instabilidade: «Desiludam-se aqueles que pensam que o PR vai dar um passo sequer para provocar instabilidade neste ciclo que vai até às autárquicas». Afinal em que ficamos? A dedução é, caso não vença o partido que detém o poder nas próximas autárquicas, o governo estará mesmo a prazo? Independentemente do esclarecimento já prestado e a leitura do tal reconhecido “porreirismo marcelista” existe o efetivo receio de como Marcelo, PR, irá gerir uma eventual crise política.
Caranguejola é por definição um veículo de fraca apresentação e de duvidoso funcionamento. Geringonça, pelos vistos, é uma engenhoca considerada extremamente complicada. É correto dizer-se que a direita em Portugal durante quatro anos nem uma caranguejola conseguiu ser.
A geringonça, independentemente da complexidade, vai-se refazendo, oleando peças e, felizmente, consegue trabalhar. A sua peça principal é sem dúvida o PS, que tem por condutor António Costa. Este sai do congresso do partido como dono, senhor e rei, onde a crítica esteve significativamente ausente, fazendo ajoelhar os críticos rendidos ao fascínio de um político diferente, daqueles que só aparecem mesmo de tempos a tempos. Quer se goste, quer se não goste.
Resta ainda dizer que Francisco Assis, independentemente do direito de opinião e tendência reconhecida, está completamente só, qual alma penada, e, se alguma coisa pretende liderar, terá de ser o PSD, pois, como todos facilmente percebemos, Passos não sabe como se faz oposição e, mais dia menos dia, alguém irá fazer o favor de lhe calçar definitivamente os patins.
Mas se o PS tem liderança, está forte, unido e determinado, por cá, vemos um partido, partido, paralisado, este sim verdadeira geringonça, parece que abriram a arca de Pandora espalhando-se pelo solo algumas cobras surucucus numa guerra de alecrim e manjerona, verdadeira telenovela nojenta com pequenos protagonismos saloios e alguns atores serôdios de meia tigela à espera sabe-se lá do quê, permitindo que os adversários façam o trabalho de minagem para gáudio de Peixotos, Amaros e Cª Ldª. Haja Deus!!!
O PS/Guarda deverá enfrentar o debate e a luta política (não a fratricida, a outra) seguindo apenas o pensamento sensato de Sócrates (não o deles, mas o grego): «As pessoas precisam de três coisas: Prudência no ânimo, silêncio na língua e vergonha na cara».
Por: Albino Bárbara