Nas sociedades atuais é cada vez mais evidente a importância da medicina preventiva, pelo que a evolução e a produção de fármacos é essencial. Neste processo longo e dispendioso uma das etapas que o medicamento tem de percorrer para ser validado é o ensaio clínico. Nesta fase do processo, surge a ideia de placebo. A palavra “placebo” provém do latim placere e significa “agradar”. O conceito de placebo refere-se a um medicamento que é administrado para satisfazer um doente, mas que carece de princípios ativos e não tem uma ação farmacológica.
Nos ensaios clínicos, muitas vezes o nome “grupo placebo” alude ao grupo de controlo a que se administra um placebo em estudos de tipo cego. O objetivo é a identificação dos efeitos farmacológicos específicos e a sua diferenciação dos psicológicos relacionados com o ato terapêutico. Apesar de, do ponto de vista metodológico, a administração de placebos ser de grande utilidade considera-se que a sua utilização em ensaios clínicos só é justificada em casos pontuais.
Em primeiro lugar, para recorrer ao placebo não deve existir um tratamento eficaz para tratar a doença que está a ser analisada, ou o tratamento deve apresentar um número elevado de efeitos secundários. Caso contrário deve administrar-se ao grupo de controlo o tratamento padrão existente. Em segundo lugar, o placebo que se estuda não é grave e apresenta uma resposta favorável ao uso de placebos. Por último, os participantes no ensaio devem saber que serão administrados placebos e conhecer as probabilidades dos riscos que têm ao receber o tratamento novo ou o placebo.
Para além disto, deve estar previsto de antemão um protocolo para aturar no caso de a situação clínica do doente não melhorar, ou piorar. Por outro lado, há doentes que melhoram quanto são submetidos a um tratamento com placebos. E, apesar de não haver uma substância farmacológica ativa envolvida na melhoria, só o facto de crer que se está a receber uma medicação recompensa, pois pode ativar uma área do cérebro chamada núcleo accumbens. Trata-se de uma pequena região no centro do cérebro associado à capacidade de experimentar prazer. A partir de diversos estudos neurológicos descobriu-se que o grau em que uma pessoa responde a um tratamento com placebo está intimamente associado à atividade registada no núcleo accumbens.
Os placebos, para que sirvam o seu propósito, devem ter a aparência de verdadeiros medicamentos. Geralmente são compostos por açúcar, mas moldam-se de formas e cores diferentes. Isto é assim porque as investigações relacionadas com os placebos sustentam que, no público em geral, existe a crença de que há uma associação entre a forma, a cor e o tamanho dos medicamentos e o seu suposto efeito terapêutico. Assim, uma pessoa comum espera que soporíferos sejam pequenos e de cor branca. Os resultados de estudos de imagens moleculares indicam que a atividade da dopamina é estimulada como resposta a um placebo de uma forma que é proporcionalmente direta à quantidade de benefício antecipada.
Nos ensaios clínicos, este produto inócuo e inativo é usado na comparação dos resultados obtidos através do uso do medicamento ativo. Normalmente, nem o doente, nem os profissionais de saúde, têm conhecimento de quais os doentes a quem foi administrado o placebo, o que permite que as observações do ensaio clínico possam ser feitas de forma mais justa.
Por fim, referir que qualquer nova medicação tem o potencial para efeitos secundários. O ensaio clínico pode ajudar a determinar a existência de efeitos secundários e o que podemos esperar se ocorrerem. Isto irá, por sua vez, ajudar-nos a encontrar novas e, preferencialmente, melhores opções de tratamento.
Por: António Costa