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Um debate por fazer

Crónica Política

O Estado português tem um problema de dimensão e de excesso de despesa superior à receita que arrecada.

Todos os anos, esta diferença, a que se chama défice público, obriga o Estado a ir ao mercado, endividar-se para pagar o que lhe falta. O aumento anual da dívida pública do país tem influência direta no juro do mercado, onde também se financia a banca.

Os sucessivos Governos não conseguiram, até agora, reduzir significativamente este défice, indispensável ao equilíbrio das contas públicas e por via disso, essencial, à necessária redução da carga fiscal que as empresas e os cidadãos suportam. A canção acerca do fim da austeridade, que ficou no ouvido, mas que não passava de um poema, era, como se viu, uma ficção.

O atual Governo com a sua heterogénea base de apoio teve de fazer um exercício complicado para assegurar os favores do voto da esquerda, aumentando a despesa do Estado em vez de prosseguir na via da sua redução, confiando num crescimento da economia que, por ser irrealista, está longe de acontecer.

A economia está a crescer menos que no passado, as exportações a diminuir, a competitividade a baixar, o desemprego que não reduz e o défice público acima dos 3 por cento. A credibilidade que o país conseguiu no difícil e doloroso processo de ajustamento está a perder-se.

Caminhamos para tempos passados que não deviam repetir-se. Estamos a afastar-nos da Irlanda e a aproximar-nos da Grécia. Não é possível pedir às empresas e à sociedade em geral para suportar mais aumentos de impostos.

Mas eles estão aí!

O que surpreende é que por puro preconceito ideológico haja partidos políticos que defendam o crescimento do Estado e da despesa pública, não se importando com o ónus que resulta para a economia privada de ter de pagar, através de sucessivos e brutais aumentos da carga fiscal, o défice público.

As empresas suportam por si o custo do investimento corpóreo, criam emprego e dinâmica económica. Pagam todos os meses os salários dos seus trabalhadores, a elevada contribuição social, impostos por conta, antes de apurarem o eventual lucro e são perseguidas por uma bem oleada máquina fiscal que dispara primeiro e pergunta depois.

Mas o que mais surpreende é ver naquela esquerda, responsável pelo incomportável aumento de despesa pública, sentimentos de paternidade em relação à Revolução de 74 e de maternidade em relação à Constituição da República.

Há uma parte do país que é colocada à margem da “legitimidade política emergente de Abril”, que é tolerada mas sempre sob suspeita. É assim que chegamos aos dias de hoje, ainda com o debate ideológico do público e do privado, sem saber qual o rumo ou o desígnio e nesse debate vamos esquecendo que o país é uno, a Pátria é de todos e que o nosso destino comum como povo devia ser mais responsabilizante.

Por: Júlio Sarmento

* Antigo presidente da Distrital do PSD da Guarda e ex-presidente da Câmara de Trancoso

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