Assunção Cristas vem dizer que «faz sentido olhar para estes critérios e decidir se, nalguns casos, não deve ser a escola privada ou do setor cooperativo a ser sacrificada, mas deve ser a escola pública que, claramente, não [deve] abrir mais uma turma».
Dos 39 colégios que perdem apoio para abrir novas turmas 5 estão nos distritos de Castelo Branco e da Guarda. Façamos como diz a dirigente centrista e comparemos as suas performances recorrendo ao ranking das escolas do ano passado. Fazendo fé no ranking – que está acessível a quem o quiser consultar na internet –, os três estabelecimentos do distrito de Castelo Branco têm desempenhos muito sofríveis, claramente abaixo da média do distrito. E os dois estabelecimentos do distrito da Guarda estão muito longe de estar na lista dos melhores do distrito. Em ambos os distritos, as melhores escolas de acordo com o último ranking são escolas do Estado. Em suma, são estabelecimentos redundantes, não são melhores do que as escolas públicas existentes no distrito e custam muito caro aos contribuintes. Por que razão, então, deveria o Estado garantir-lhes a possibilidade de abertura de novas turmas? Com mais precisão para que não subsistam equívocos – por que razão haveria o Estado de financiar mais, sendo honrado o compromisso de financiar as turmas entretanto abertas até que os respetivos alunos terminem os seus ciclos de estudos?
A resposta só pode ser uma: rendibilismo estatal por privados. Mas o que é preciso dizer é que esta agenda rendibilista de Assunção Cristas, que só diverge da de Passos Coelho por não ter papas na língua, envergonharia qualquer direita genuinamente liberal, e que se existisse em Portugal agiria verdadeiramente com a liberdade liberal no coração e a criação de oportunidades na mente. Na verdade, é precisamente tudo o contrário o que move Cristas. E é uma tristeza que haja tão poucos liberais para o denunciar. Nenhumas oportunidades além das que o Estado, os recursos públicos e os impostos (cobrados a uma população que lhe ouviu até ao enjoo a acusação de viver acima das possibilidades) ironicamente lhes permite sustentarem-se, mesmo que tenham de lutar que nem mastins pelo seu quinhão de rendas estatais, mobilizando crianças além de qualquer pedagogia admissível e fazendo da Constituição um objeto de troça. Esta agenda, que acusa e que gosta de autoridade, mas que não sabe dispensar-se de viver estatalmente pesa muito ao país. Se fossem genuinamente liberais, olhariam para o Estado como um cliente que avaliaria os seus serviços como clientes, sem, em algum momento, se instalarem na zona de conforto das rendas adquiridas. Pois, acaba tudo por ser demasiado irónico. Acham-se no direito de presumir que têm rendas estatais adquiridas, quando amesquinharam direitos sociais como se fosse direitos adquiridos de privilegiados. Enquanto puderam governar, sugeriram aos concidadãos fazerem-se ao piso por terras estrangeiras à procura de oportunidades, mas em momento algum se dispensam de achar que têm direito às rendas estatais, indiferentemente às contas que o Estado tem de fazer para suportar as suas próprias escolas. Mesmo a 5 minutos a pé. A desfaçatez vai ao ponto de achar que o Estado devesse fechar as suas escolas para conservar estas douradas rendas estatais. E que tal se se emancipassem do Estado? Chega de Estado “nanny” e de subsidiodependência para negócios. Esquecem-se que do seu ponto de vista ideológico, se fossem genuinamente aquilo que dizem ser ideologicamente, deviam defender um Estado mínimo? O logro político é a maior vergonha de uma direita ideologicamente envergonhada mas interesseiramente desenvergonhada. E isto é uma profunda chaga económica em Portugal.
Por: André Barata