Parece a alegoria de um desastre a alta velocidade. “Money Monster” (2016) retrata as consequências de uma “falha” num sistema informático do mercado financeiro, que resulta na perda de quantias avultadas de dinheiro por parte de cidadãos comuns. Um deles é Kyle Budwell (Jack O’Connell), um jovem que perdeu uma herança num mau investimento.
Desesperado, Kyle invade, de arma em punho, o mediático “Money Monster”, um inusitado programa de televisão sobre finanças. Lee Gates (George Clooney), o apresentador, vê-se sem fuga possível no seu próprio habitat, assim como a equipa técnica no estúdio e na régie. Ali, destaque para Patty Fenn (Julia Roberts), que coordena o programa – ou tenta, pelo menos.
A ação decorre ao ritmo da “bipolaridade” de Kyle que, derrotado à partida, quer que Lee, que aconselhou o investimento, e Walt Camby, o presidente da empresa no centro da polémica, prestem contas ao público. No entanto, o segundo está desaparecido e as respostas até ao momento não convencem ninguém. Já o tempo, num tiquetaque cortante, esgota-se e a equipa de “Money Monster” é incapaz de dar resposta às exigências de Kyle.
O mais recente filme com Jodie Foster ao leme da realização faz lembrar dois clássicos incontornáveis: “Um Dia de Cão” (1975) e “Manobras na Casa Branca” (1997). Isto porque o mediatismo da tragédia, despida no nosso ecrã à medida que o público intra-filme se rende a um protagonista que nada tem de heroico, e o aproveitamento (interesseiro ou não) do poder da televisão são intemporais. E o cinema leva-nos para além disso.
Um dos pontos fortes do filme é a linguagem, simplificada e, a momentos, caricatural, que nos fala diretamente para nos inquietar. Há perguntas que surgem e perduram no tempo, até ao momento em que as encontramos também na atualidade. As respostas, essas, tal como na obra realizada por Jodie Foster, só surgem quando arrancadas a “ferros”… E nem sempre correspondem à verdade dos factos. Uma coisa é certa: independentemente de Kyle vencer ou não, o problema continuará porque não reside em Camby, mas sim no sistema.
Este filme cria um enredo logicamente impossível para nos levar a questionar a realidade dos mercados globais. Que interesses os movem? Como pode o público defender-se dos esquemas (ou reconhecê-los)? Não será o mediatismo – e as próprias opiniões “especializadas” – inimigo de atitudes ponderadas? Será que o jornalismo está atento a tudo isto? Será que os seus profissionais fazem, no geral, as perguntas certas? “Money Monster” (2016) é claro: não.
Sara Quelhas*
*Mestre em Estudos Fílmicos e da Imagem pela Universidade de Coimbra