Arto Lindsay, John Abercrombie e o duo Maria João e Mário Laginha são os cabeças-de-cartaz da sétima edição do Festival de Jazz da Guarda, organizada pela Câmara da Guarda até ao final do mês. O evento está de regresso, após um ano de suspensão por opção de programação, e inclui ainda a realização de conferências, a apresentação de livros, sessões de vídeo e uma exposição intitulada “Os Escritores e o Jazz”, patente até dia 31 na Biblioteca Municipal. Menos concertos, mas de grande qualidade, e maior diversidade nas actividades propostas são o lema da edição deste ano.
A música só começa domingo com o caleidoscópico Arto Lindsay. O guitarrista norte-americano, crescido no Brasil, actuará no auditório municipal com Micah Gaugh (saxofone, teclas e samplers) e Melvin Gibbs (baixo) naquele que será o segundo concerto de apresentação em Portugal do seu novo disco, intitulado “Salt” – na véspera, o músico esteve no Teatro Sá da Bandeira, no Porto. Arto Lindsay tem-se assumido como um dos mais importantes e polivalentes artistas das últimas três décadas, trabalhando como compositor, intérprete, guitarrista e produtor. Líder, nos anos 70, dos DNA, o norte-americano já partilhou o estúdio com figuras como Laurie Anderson, David Byrne, Ryuchi Sakamoto, Gal Costa, Caetano Veloso e Marisa Monte, entre muitos outros. As suas músicas incorporam elementos de percussão brasileira, a que mistura funk, soul, “drum’d bass” e “noise rock”. No dia seguinte, a música será outra com a apresentação do livro “Poezz: jazz na poesia em língua portuguesa”, uma antologia elaborada por José Duarte e Ricardo António Alves, que inclui perto de uma centena de poetas e quase o dobro de poemas de Manuel Bandeira, Carlos Derummondo, José Craveirinha e Agostinho Neto, mas também Ana Hetterly, Almada Negreiros, Fernando Grale, Herberto Helder, Fernando Assis Pacheco e Tolentino Mendonça, entre outros.
John Abercrombie Quartet no dia 13
Outro livro em destaque no festival é “Jazz e Literatura”, que revela as influências deste estilo musical na poesia e ficção contemporânea. A obra será apresentada dia 12, também na Biblioteca Municipal, por Miguel Martins. Vem depois o John Abercrombie Quartet, cujo concerto no auditório municipal (dia 13) será, sem sombra de dúvida, um dos pontos altos desta edição. O guitarrista é uma lenda viva do jazz, tendo tocado com os principais “monstros sagrados” do género desde o final dos anos 60. Na Guarda, John Abercrombie faz-se acompanhar de outros ícones, caso de Mark Feldman (violino), Marc Johnson (baixo) e Joey Baron (bateria). A 15 de Maio a Mediateca VIII Centenário acolhe uma sessão de vídeo musicado ao vivo. O filme é “O Garoto de Charlot”, de Chaplin, enquanto a banda sonora original foi composta pelo contrabaixista Zé Eduardo e será interpretada por um septeto de jovens músicos de jazz sob a direcção musical do próprio José Eduardo. Para dia 18, no mesmo espaço, está programada uma conferência sobre as novas tendências do jazz contemporâneo. Rui Neves, especialista do género e programador de festivais de música no Centro Cultural de Belém e na Gulbenkian, falará dos novos caminhos estéticos que o jazz trilha actualmente.
Já na recta final, o festival guardense recebe, dia 19, a visita dos saudosos e frenéticos Maria João e Mário Laginha, um duo cuja actuação – dupla – no então Ciclo de Jazz da Guarda, em 1997, ainda ninguém esqueceu. Em parceria, contam já com seis trabalhos discográficos editados de excelente qualidade: “Danças”, “Cor”, “Lobos, Raposas e Coiotes”, “Chorinho Feliz”, “Mumadji” e “Undercovers”. Este último, editado pela Universal Music em Novembro de 2002, teve edição mundial e foi aclamado pela crítica da especialidade. A projecção do vídeo “Lendas do Jazz” (dia 21) na Mediateca encerra o festival, apresentando excertos de concertos ao vivo de alguns dos maiores músicos do período clássico: Dizzy Gillespie, Art Blakey ou Stan Getz. Os bilhetes para os concertos custam seis euros, mas a organização sugere a sua compra antecipada na Livraria Municipal, no edifício dos Paços do Concelho, ou reservas através dos telefones 271 220 220 e 271 220 245.
Luis Martins
