1. A aldeia do Sabugueiro, concelho de Seia, vai ser a primeira “Aldeia Inteligente de Montanha” em Portugal. O epíteto, per si, tem desde logo um impacto positivo e de repercussões diversas. Mas para além do “título” que lhe vai ser outorgado pela Fundação Vodafone Portugal, o Sabugueiro passa a ter uma classificação “Inteligente” pelas soluções tecnológicas a implementar, em especial a de “smart cities”, naquela que é porventura a mais iconográfica povoação da Serra da Estrela, pela sua identidade e enquadramento geográfico. As inovações tecnológicas a apresentar na próxima terça-feira irão implicar mudanças na vida dos residentes e serão atrativas para os visitantes ou até para novos habitantes, por influírem de forma diferenciada a vivência no meio – da mobilidade à gestão dos recursos hídricos passando pela gestão energética, da iluminação pública ou dos domicílios. Contrariando a ostracização e isolamento dos territórios de baixa densidade, o projeto em implementação no Sabugueiro antecipa o futuro numa aldeia do interior da Serra e projeta o desenvolvimento contrariando o atraso e a interioridade habitual.
2. Entendido que o Orçamento de Estado (OE) estava empestado de gralhas e erros, ao ponto de ser necessária uma adenda que corrigisse um quinto do original, lá vieram mais complicações para a República: os juros subiram para além dos 4 por cento e confirmou-se que Portugal falhou mais uma vez a meta do défice, que irá ficar nos 3,1% do PIB (o governo anterior tinha como meta os 2,7 e António Costa quando tomou posse também assegurou tudo fazer para ficar abaixo dos 3% mas não teve sucesso) – e isto sem contabilizar a resolução do Banif, que a título excecional, esperemos, será contabilizada à parte, porque senão chegaria aos 4,3%. Ou seja, o governo de Passos Coelho (e Portas, e Gaspar, e Maria Luís) não conseguiu fechar as contas em nenhum dos 4 anos em que governou de acordo com o OE que fizeram, um aninho que fosse, falharam todos os anos, apesar de todos os apertos, correções e sacrifícios.
Em 40 anos, temos 3 falências nacionais e, como disse João Marcelino, os laranjinhas e os rosinhas são farinha do mesmo saco e por muito que no jogo político reivindiquem superioridade um sobre o outro, são a base e campo de recrutamento da maior incompetência do Estado português: três resgates financeiros e uma completa dependência dos credores.
A forma atávica como Portugal tem olhado para os seus problemas, sem estratégia concertada, sem capacidade de enfrentar os problemas frontalmente, levam ao adiamento constante das mudanças e ruturas essenciais. Passos Coelho teve em 2012 um país ajoelhado perante a incerteza e o medo, podia ter mudado tudo, mas afinal só mostrou ser forte com os fracos e foi fraco com os fortes e poderosos grupos de interesse, nomeadamente com os do seu partido, porque é sempre dentro dos partidos que estão os mais oportunistas e usurpadores. Adiar tem sido sempre a solução num país que vai de crise em crise e não consegue tomar rumo (na Irlanda, quando houve problemas no sistema financeiro, reagiu-se à bruta e tomaram-se medidas imediatas com o corte de 30% dos funcionários do Estado, 6 anos depois é já a economia que mais cresce na Europa). O otimismo moderado com que o novo governo foi recebido vai-se esfumando perante a forma errónea como as realidades se vão sucedendo. A incerteza volta a tolher a iniciativa, a coragem e a capacidade mudar e progredir. É pena.
Luis Baptista-Martins