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Corta!

Quando menos se espera, uma agradável surpresa surge nas salas de cinema. Que este tem sido um ano de desilusões já aqui tinha sido dito antes, mas, até num qualquer ano mais simpático para com os espectadores, um filme como «Shattered Glass – Verdade ou Mentira» merecia uma maior atenção do que aquela que tem recebido. É também verdade que, ao ritmo que os filmes estreiam actualmente em Portugal, a tarefa não fica facilitada para todas aquelas obras que não gastam em publicidade o que daria para fazer uma dezena de filmes no nosso país. Por tudo isso é importante ficar desde já feito o aviso: este é um filme a não perder!

História verídica de um jornalista americano que a todos enganou, inventando reportagens de uma ponta à outra, durante anos, «Shattered Glass» será uma delícia para quem já tenha feito parte da redacção de um jornal, de um qualquer jornal. Se aqui se trata (e retracta) da New Republic, uma das mais conceituadas revistas de análise política americana, única a ser oficialmente lida no avião particular do Presidente americano, são na realidade todas as redacções a ser retratadas. Todas sem excepção. Os tiques, crises, conflitos e relações entre colegas, está lá tudo. Para quem sabe o que aquilo é, será garantidamente um prazer verificar o quanto tão pouco muda, seja qual for a parte do mundo em que se esteja a fazer jornalismo, seja qual for a grandiosidade desse mesmo jornalismo. Para a maioria, afastada de tal mundo, será uma oportunidade de conhecer esse outro lado. Fica, no entanto, o aviso para esse imensa maioria, de que, felizmente, nem todos os jornalistas se assemelham, na forma de trabalhar, a Stephen Glass, o jornalista inventor.

Presença habitual no cinema americano até aos anos 70, as redacções de jornais e revistas estavam há muito arredadas das telas. Com «Shattered Glass», Billy Ray, responsável por argumento e realização, assina um feliz regresso, construindo um magnifico filme de suspense, prendendo a nossa atenção do primeiro ao último minuto. Quando, no final, tudo se parece encaminhar para um daqueles finais à americana, com direito ao obrigatório happy ending, e ligeiramente nos recordamos de filmes como «O Clube dos Poetas Mortos», Ray consegue, inteligentemente, não esticar a corda para além dos seus limites. Não é demais repetir: não perca!

Verdade

Enquanto na Assembleia da República se tenta discutir uma lei para o cinema nacional – e que fazer quando nem os próprios criadores se entendem sobre tal? – a FNAC, com o apoio do ICAM, lançou o primeiro número de uma colecção de DVD’s dedicado às curtas que se fazem em Portugal. Finalmente uma oportunidade para o grande público poder facilmente ter acesso a um mercado vastíssimo, e quase sempre marginalizado, do cinema português. Sabendo nós que não são poucos os nossos realizadores que se ficam apenas pelas curtas-metragens, não tendo nunca oportunidade de dar o salto para as longas, é aqui que se encontra a grande fatia do cinema luso. Claro está que, quem já tenha tido a genuína curiosidade de as descobrir, poderia tê-lo feito há muito através do «Onda Curta», esse oásis que resiste no «segundo canal» dos nossos televisores. Não é realmente fácil imaginar quem o não tenha feito, ou o faça regularmente, gratuitamente, ao assistir a um programa de televisão, se decida agora a procurar estes filmes, mesmo com um preço tão convidativo. Ao ritmo de um DVD por mês, o primeiro desta colecção lançada na passada semana, incluí curtas de Margarida Leitão, Raquel Freire, Elsa Bruxelas e Fernando Vendrell.

Por: Hugo Sousa

cinecorta@hotmail.com

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