Coisas que não mudaram – Não há uma liderança regional clara – nem de uma pessoa nem de uma instituição. A política da Beira Interior é um jogo de xadrez em que cada peça joga por si – de per si vão ganhando posições mas ninguém ganha verdadeiramente o jogo.
A Comunidade Intermunicipal poderia colmatar esta falta de liderança, posicionando como uma plataforma política para projetos estruturantes regionais, mas foi apenas o espelho do que referi antes. Num jogo de umbigos, anda cada município com o seu estratagema, anda cada autarca com a sua ambição pessoal.
Talvez por não termos uma visão integrada da região, não exista ainda uma estratégia turística, válida e integrada, para a Serra da Estrela. Aliás, não se resolveu sequer a questão dos acessos à Torre quando há neve. Assim, como não houve uma real política de limpeza e proteção de matas, pelo que os incêndios de Verão são uma constante, a desflorestação uma realidade. A Linha da Beira-Baixa, tão importante do ponto de vista socioeconómico para este território, também sofreu um revés tremendo como eixo de união da região e de ligação ao resto do país e a Espanha.
Manteve-se o fosso entre o interior e o litoral, e quando parecia que as autoestradas iam quebrar este ciclo, logo o pagamento (injusto e exagerado) das ex-Scut veio travar esse desenvolvimento sem que, uma vez mais, houvesse uma voz comum de contestação política.
Verdadeiramente, o que não mudaram foram as mentalidades…
O que piorou – O desaparecimento de grandes indústrias por toda a região – empresas que davam grande empregabilidade, sustentavam muitas famílias e permitiam que se mantivessem na região. O crescente salto tenológico de muitas empresas – o que é positivo e permitiu a sua sobrevivência – também eliminou muitos postos de trabalho. Assim, o desemprego tem crescido e levado pessoas para o litoral e para o estrangeiro. Um fenómeno que conhecemos de outros tempos e que de novo nos arrasta para o despovoamento, desagregação das famílias e para o envelhecimento dos que ficam.
O que melhorou – O Turismo é a grande indústria dos novos tempos, e se é verdade que não houve uma estratégia concertada para a região, também é certo que assistimos a boas notícias no sector. Os municípios apostaram na sua promoção, valorizando o seu património e os produtos gastronómicos locais, com a criação de festas/feiras temáticas. Entidades como as Aldeias Históricas, as Aldeias do Xisto, a Rede de Judiarias e outras vieram dar uma maior visibilidade à região. Entretanto abriram novos hotéis – devo sublinhar o H2Otel, de Unhais da Serra – e recuperou-se a mítica Pousada da Serra da Estrela (Antigo Sanatório). O turismo rural deu um salto quantitativo e qualitativo. As Escolas de Hotelaria e Turismo no Fundão e em Manteigas deram novos profissionais para o sector. Surgiram vinhos de qualidade no mercado… e produtos kosher para responderem a uma crescente procura no turismo judaico.
Os parques industriais e as incubadoras de empresas permitiram a modernização de empresas existentes na região, a criação de muitas outras (sobretudo com jovens investidores saídos da universidade e dos politécnicos) e a atração de alguns investimentos interessantes. Quero ainda sublinhar a consolidação da UBI (no ensino e na investigação) e a construção das novas bibliotecas públicas: Fundão, Covilhã, Castelo Branco e Guarda.
* Título da responsabilidade da redação
João Morgado*
* Escritor, antigo colaborador de O INTERIOR